#17 as emoções dão valor às experiências
o que eu descobri gravando notas de áudio para mim mesma
na edição de hoje: um convite a um hábito novo, um disco, algumas palavras de Adriana Calcanhoto e meu restaurante japonês preferido em NY.
eu tenho um bloco de notas no celular que uso para salvar listas de compras, títulos de livros que quero ler, ideias de escrita, lembretes de coisas pra fazer durante o dia, recados... recentemente, comecei a gravar áudios por lá, com memórias que eu quero capturar. decidi testar esse formato pensando em ter mais praticidade e espontaneidade em alguns registros. mesmo que eu anote de forma muito livre meus pensamentos, a edição da escrita é sempre mais rigorosa e mais difícil de contornar do que a da fala.
foi curioso ouvir minhas primeiras gravações alguns dias depois de tê-las feito. a leva inicial é, claro, sobre mudança. eu não tenho conseguido fugir muito dessa temática estando ainda me estabelecendo num lugar novo. hoje, por exemplo, escrevo de uma sala vazia, à espera de um sofá que vai determinar o restante da decoração do cômodo. pra ser mais exata, eu tenho dois bancos lindos aqui na sala, que me servem de apoio diário.
mas, voltando aos áudios, um deles dizia mais ou menos o seguinte:
“se você é uma pessoa avessa a emoções, não se mude. estou, agora, chorando porque estou saindo do hotel pra ir pra minha casa. saudosa do hotel. mudar mexe muito com tudo. sinto uma mistura de saudade com felicidade, e um pouco de inseguranca.”
a voz está embargada. e me fez lembrar exatamente de onde eu estava quando gravei o áudio: arrastando a última mala pesada pela Canal Street pra pegar o uber e finalmente me mudar. de novo. achei surpreendente revisitar esse momento sob essa perspectiva, ouvir a rua, o barulho da rodinha no fundo da gravação, e pensar que não faz nem 15 dias, mas já parece uma eternidade.
gravem áudios pra si mesmos! nesses tempos em que a gente vive - e que talvez entendamos em algum momento do futuro, talvez, não -, poder se ouvir, literalmente, é um grande trunfo. já pensaram sobre isso? eu não tinha pensado até me ouvir. percebi que é uma forma muito boa de me conhecer melhor, perceber nuances que passam despercebidas no dia a dia, relembrar alegrias e (res)sentir incômodos. são emoções encriptadas de ponta a ponta a um clique de distância.
inspiração da edição
Nova York é uma cidade muito ruidosa. e eu, que sou muito observadora, estou com a audição mais aguçada por aqui. ando de metrô prestando atenção aos idiomas e sotaques (não é fofoca, é observação), já identifiquei os padrões de sons aqui da rua, e amo os barulhos do parque.
um mês atrás, mais ou menos, meu namorado me mandou um vídeo da Adriana Calcanhoto contando num show que sempre que ela vem a Nova York, ela se lembra de ouvir o mundo. ela diz que pensa em John Cage, que falou:
“a gente tem que ouvir o tempo da gente.”
Adriana faz uma associação dessa frase com o fato de ele ser compositor e completa: “a música tem essa ilusão, essa pretensão de apreensão do tempo”. foi um vídeo especial pra mim e, percebo agora que, não coincidentemente, tenho ouvido muita música nos últimos dias.
e eis aqui minha companhia frequente mais recente: Maggie Rogers, cantora e compositora americana que vai fazer show aqui em outubro (e pra o qual eu talvez já tenha comprado ingresso). um ano e meio atrás, quando estávamos de férias na cidade, meu amigo Pedro falava sem parar sobre ela. lembro que ouvi na época, mas não me pegou muito. nesse mês, Pedro comentou que ela tinha lançado um disco novo, Don’t forget me, e me mandou uma música. eu me apaixonei.
Maggie Rogers compôs as canções do disco em cinco dias do último inverno (que estaria acabando quando eu cheguei aqui, me prometeram, mas até agora não foi embora totalmente), e elas têm uma pegada bem suave e aconchegante. ouvir esse disco tem sido como um abraço pra essa recém-chegada que tem ouvido tudo mais do que de costume.
numa entrevista à AP, a artista contou que o álbum não é exatamente sobre um momento específico da vida dela, mas que a essência das músicas é muito verdadeira. e que a obra é uma espécie de ode às experiências que ela viveu durante os 20 anos. curiosidade: ela está completando 30 anos hoje! vale a pena ouvir essa loirinha que surpreendeu Pharrell Williams.
aproveita que seu tocador de música está aberto e começa a seguir esse podcast novo do The New York Times: The Interview. a estreia é no sábado e o trailer me deixou curiosa. vamos falar sobre ele na próxima edição?
um lugar para conhecer





eu adoro comer bem e amo quando essa experiência é descomplicada. sobra HD mental pra curtir sabores e texturas, sem ter que ficar tentando entender as mil etapas do menu ou as formas de preparo de um ingrediente específico. o sugarfish é um restaurante de comida japonesa aqui em Nova York que se encaixa perfeitamente nesse meu ideal culinário. são quatro opções de menus com tudo bem explicado desde o começo.
a comida é absurdamente saborosa. e os pratos não têm mistério, o chef Nozawa valoriza a tradição. o arroz do sushi vem morninho, o que foi uma surpresa pra mim, quando provei a primeira vez. pra completar o combo, o restaurante informa no cardápio que a hospitalidade do serviço está incluída no valor cobrado e que, por isso, não cobra gorjeta por fora. há várias unidades na cidade e nenhuma aceita reservas, mas nas vezes em que eu fui - tanto pra almoçar quanto pra jantar -, não precisei esperar muito tempo para sentar. vale colocar lá lista pra uma visita futura!
obrigada pela companhia. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. é onde eu compartilho mais sobre as minhas inspirações, a vida e as oportunidades que eu observo por aí. aguardo suas opiniões e sugestões.
acho que prefiro continuar escrevendo do que me ouvir depois... sempre me incomoda perceber que a minha voz é diferente da que eu ouço quando falo. hahaha
quanto à dica, eu anotei. mas vai ficar mais difícil de seguir do que era antes...
Muito bom estar em NY por você!!!