na edição de hoje: tá com o cardio em dia?
é comum eu me emocionar correndo, escrevendo sobre corrida ou assistindo a pessoas correndo. e isso é realmente notável porque não é comum eu me emocionar de forma geral. mas a corrida tem esse efeito especial sobre mim, ela me emociona com facilidade.
na sexta-feira passada, eu dei uma choradinha enquanto corria. foi um choro leve porque eu precisava terminar o treino. risos. e deu tudo certo. na verdade, deu tudo muito mais do que certo e foi por isso que eu chorei, porque, mais uma vez, a corrida me fez constatar que é possível ir além.
acontece que, no dia 17 de maio, eu dei a minha primeira volta completa correndo no Central Park, que dá pouco mais de 10 quilômetros. pra quem não é iniciado na seita, uma explicação: corredores adoram completar voltas em lugares emblemáticos, como a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e o Central Park, em Nova York. é simbólico, mais do que qualquer coisa. e foi simbólico pra mim mesmo depois de um mês correndo no parque algumas vezes por semana.
ainda faltavam 4 quilômetros pra eu terminar meu treino quando fechei aquela volta e me lembrei de uma das primeiras conversas que eu tive com uma amiga quando eu recebi o convite pra me mudar pra cá. ela disse que ia ser incrível poder correr no Central Park sempre que eu quisesse. eu, ainda em choque com tudo, respondi: “mas eu já corri lá”. de fato, eu já tinha corrido lá. mas assim que eu alcancei aquele marco, eu me lembrei da Manu e estava sendo incrível correr no Central Park.



a sensação era de que mesmo que não fosse novidade, a corrida, de novo, estava me levando além. as lágrimas vieram imediatamente e não atrapalharam meu treino, ao contrário, elas me deram fôlego pra fechar uma distância que eu não corria há mais de um ano.
faz quase cinco que eu corro com regularidade e orientação profissional. meu treinador e, hoje, amigo, o Thiago Ferreira, criou e lidera a assessoria de corrida mais legal do Rio de Janeiro, que reúne corredores com todo tipo de estilo de vida e objetivo no esporte. e me sentir parte dessa comunidade foi também o que me manteve consistentemente correndo.






eu comecei a correr despretensiosamente porque achava descolado e parecia divertido. as provas de rua estavam se popularizando e eu me sentia atraída por aquela cultura toda. isso foi uns dez anos atrás. eu fiquei um tempão correndo sem planejamento, seguindo planilhas de revistas e de sites duvidosos na internet. eu tinha um tênis de corrida, que usava pra todas as atividades físicas que eu praticava, e um sonho: correr 5 quilômetros sem parar. calculava minha sensação de esforço intuitiva e subjetivamente. pras distâncias, recorria a um aplicativo que instalei no celular. o processo era caótico, mas absurdamente divertido. eu me apaixonei desde o começo.
com o tempo, eu me senti estagnada na marca dos 5 quilômetros e dobrei a meta. procurei especialistas e estabeleci uma rotina pra prática da corrida. daí vieram os 10, 15, 21 quilômetros… alcançados com muita dedicação, prazer e dor, sempre. não existe receita fixa pro corredor amador, só uma coisa é certa: os processos são absolutamente surpreendentes. a gente concilia TUDO com a corrida. e precisa, além de fazer escolhas o tempo todo, driblar os imprevistos. na verdade, é um eterno ato de administrar a vida, que acontece enquanto a gente tenta correr mais rápido, fortalecer pra evitar lesão, juntar dinheiro pra um acessório novo.
hoje, ser corredora é uma forma (importante) de me definir. se você me der dez minutos de atenção, a gente vai acabar falando sobre corrida. eu me sinto conectada comigo mesma quando eu corro. a prática se alinha ao meu estilo de vida e acaba se fazendo presente em momentos diversos do meu dia a dia.
meu irmão costuma dizer que não entende quem corre e que, pra ele, corrida é como esperar em movimento, não tem finalidade por si só. eu conheço pessoas que correm por diversos motivos: disciplina, estética, trabalho, saúde, diversão. e essa é a graça: não tem regra. às vezes, eu corro pra pensar melhor. às vezes, pra não pensar em nada. e, sempre, pra me dar um senso de ordem.


quando eu cheguei a Nova York, eu senti muita falta da corrida logo de cara. foi difícil fazer a adaptação física, sair dos 40 graus do verão carioca pra temperatura abaixo de zero do inverno americano. fora todo o resto. mas, aos poucos, fui me reordenando, conhecendo os caminhos, concluindo as planilhas e me encontrando novamente.
até que, num dia normal de trabalho, falando sobre a eleição americana, um colega disse que Chicago era a cidade mais linda dos Estados Unidos. se esse fosse um roteiro de filme ou série, eu pediria agora uma pausa dramática antes de a protagonista resgatar uma memória recente: quando eu comecei a organizar a minha mudança, pesquisei quais eram as provas marcadas aqui nos Estados Unidos. a que mais me interessou era, adivinhem… em Chicago. fim do flashback, volta pra redação onde eu trabalho: abri o site da prova e fiz minha inscrição. no dia seguinte, contei pro meu treinador, que vibrou comigo. uma semana depois, eu tava fechando uma volta no Central Park e me emocionando com o melhor esporte do mundo.
inspirações da edição
separei algumas coisas legais pra indicar aqui e falar menos de mim e mais ainda sobre corrida. tem dicas recentes, dicas mais sérias, dicas leves e algumas que eu já considero clássicos.
🏃 corro, logo existo: um colega me indicou esse episódio do podcast da Rádio Escanfandro semanas atrás e eu, sinceramente, poderia ouvi-lo seguidamente sem cansar. é um primor de roteiro.
🏃 é claro que meu queridinho O Corre Delas tem um episódio sobre corrida, e é com a maravilhosa Debora Gonçalves, inspiração pura.
🏃 o médico Drazio Varella é uma instituição brasileira e corre. corre muito. nesse vídeo aqui ele responde perguntas sobre corrida e assuntos relacionados.
🏃 do que eu falo quando falo sobre corrida, Haruki Murakami: o melhor livro sobre o tema com o bônus de traçar vários paralelos entre a corrida e o ofício da escrita.
🏃 correr uma maratona pra aplacar a crise de meia idade? esse artigo em inglês da The Atlantic tem boas teorias.
🏃 eu me apaixonei à primeira vista por essa reportagem sobre um cara que deu 19 voltas no Central Park correndo e é claro que a reli quando dei minha volta histórica. também em inglês.
🏃 a última dica gringa é o livro It all starts with one step, do Brady Silverwood, que eu ganhei do coach mês passado. é uma ótima pedida pra quem é metódico e gosta de seguir planejamentos bem específicos e focados.
🏃 à procura do gelzinho perfeito: como não amar o perfil @sommelierdegel? uma novidade que vale o like!
🏃 se você não conhece o Pedro Paulo, tá perdendo muito tempo!
🏃 um vídeo pra dar gostosas gargalhadas.
🏃 eu sou absolutamente fissurada na história do Deo, que está correndo da Cidade do Cabo até Londres pra chamar a atenção pra história da migração humana.
uma forma de conhecer lugares
afirmo sem medo de errar que uma das melhores formas de se divertir e explorar os espaços é correndo. eu já corri em muitas cidades diferentes e tenho certeza de que ainda vou rodar muito esse mundo com meus tênis nos pés e um sorriso no rosto. já corri em meio a prédios e avenidas, com cimento até o talo, e já curti percursos cercados de natureza, ar puro e muito verde. já sofri com a umidade nas alturas e com o nariz sangrando de tanta secura. o sofrimento, quase sempre, é inevitável, aliás. já mais parei do que corri pra fotografar as curiosidades do caminho e já me enfiei em roubada e corri bem ligeirinha pra sair delas. a corrida já me deu muitas histórias, esse é o lance. e eu curto muito!
e você, qual foi o lugar mais legal que você já conheceu correndo? ou qual lugar você quer conhecer com a corrida?
obrigada pela companhia. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. é onde eu compartilho mais sobre as minhas inspirações, a vida e as oportunidades que eu observo por aí. aguardo suas opiniões e sugestões.
Eu realmente estava esperando por isso há muito tempo. Recordei tantos momentos bons que vivemos e penso aqui em todos os kms que você ainda correrá mundo afora… que honra ser citado por você, minha referência! ❤️
"senso de ordem", amooooo!!!