na edição de hoje: A série do momento (sem spoiler), uma cozinheira incrível e um cantinho que eu amo em Nova York.
a série Adolescência estreou nesse mês na Netflix e, em duas semanas, se tornou a minissérie de maior audiência da plataforma: mais de 66 milhões de visualizações. o sucesso tem muitos motivos: é uma obra tecnicamente inovadora e perfeitamente executada, com atuações magistrais, e mobilizou o debate público com uma força há muito tempo não vista.
pra onde eu olho, vejo alguém falando sobre o assunto. um bom sinal em meio a um mar de instabilidades e incertezas sociais.
Jamie Miller, de 13 anos, é preso acusado de matar uma adolescente que frequenta a mesma escola que ele. logo de cara, a gente sabe quem matou e quem morreu. a série não é sobre isso.
no primeiro capítulo, vemos a prisão, os procedimentos burocráticos da polícia, o susto da família, as primeiras reações. o diretor Philip Barantini escolheu contar tudo num plano-sequência de uma hora filmado de uma tacada só, sem truques de edição, só com muito ensaio e logística. o mesmo foi feito com os outros três episódios.
é brilhante!
Stephen Graham, que interpreta o pai de Jamie, é uma das peças centrais da narrativa. o menino decide que ele será seu representante legal. e cresce a expectativa de quem assiste à série sobre o papel desse pai na formação do adolescente. mas o que a série acaba revelando, a cada episódio, é uma responsabilidade compartilhada.
o segundo capítulo se passa na escola. o cenário que se vê é o de uma instituição caótica, com profissionais despreparados pro mundo digital onde vivem os alunos. no terceiro, o mais marcante e impactante, testemunhamos uma sessão de Jamie com a psicóloga dele. e várias camadas humanas são expostas na tela sem filtro. vale contar aqui que esse foi o primeiro episódio gravado e que o ator Owen Cooper nunca tinha estado em um estúdio de filmagem antes.
o desfecho é avassalador. sugiro que você vá de coração aberto e com o olhar generoso. conhecemos a família de Jamie no final. em tese, o começo de tudo, a família. mas terminamos com mais perguntas do que respostas.
o grande feito da série, pra mim, é exatamente esse: abrir espaço na roda pra mim, pra você, praquele amigo que tem um filho pequeno, pra amiga que não quer ser mãe, pra tia, pra avó, pro primo, pro irmão, pros colegas de trabalho, pra quem a gente ama e pra quem a gente repudia. puxe sua cadeira e ocupe o seu lugar.
a educação de qualquer jovem é “problema” de todos nós. e, hoje, os jovens estão expostos e vulneráveis a influências nefastas que não vão se dissipar num passe de mágica. vivemos uma grande crise social coletiva que não é uma questão geracional. e não adianta fingir que está tudo bem só porque não acontece no seu quintal. a internet dissipou todas fronteiras e é só questão de tempo até sua casa ser invadida sem aviso.
abaixo, algumas análises muito interessantes que eu li nos últimos dias, sobre diferentes aspectos da série. todos os conteúdos reforçam como essa obra é poderosa e movimenta o debate, provoca a sociedade a pensar, refletir, opinar. e é desse movimento que podem surgir mudanças.
o compilado de vídeos que aparece nessa publicação da é assustador, mas também muito revelador. eu mesma não sabia que o nível de conteúdo circulando e alcançando os adolescentes era esse.
nessa postagem acima, um conteúdo riquíssimo sobre os incels.
a Paula Jacob é uma crítica de cinema que eu sempre paro pra ler quando publica algo novo. o olhar técnico dela dimensiona o grande do trabalho profissional por trás da série. ela também tem uma newsletter aqui, que recomendo: .
esse texto da Elizabeth é curto e certeiro, se você quiser escolher apenas um conteúdo da lista, indico esse. uma análise objetiva que não deixa margem pra dúvida quanto à urgência com que providências precisam ser tomadas pelos adultos, pra proteger essas crianças e adolescentes.
por fim, um desabafo que falou fundo à minha alma.
inspiração da edição
eu sempre gostei de cozinhar - pra mim e pra poucos amigos. tenho muita curiosidade sobre ingredientes, formas de preparo e sabores dos alimentos. acho fantástico o poder que um cozinheiro tem de criar experiências com comida.
aqui nos Estados Unidos, acabei perdendo um pouco da minha prática culinária, principalmente, pela dificuldade de reconstruir a minha cozinha. é tudo novo e dá trabalho testar até descobrir os bons temperos, a melhor marca de macarrão, o queijo mais saboroso.
mas, aos poucos, e com algumas inspirações valiosas, a minha faceta cozinheira tem dados as caras novamente e eu tenho me presenteado com gostosas memórias nova iorquinas. uma das responsáveis é a , que comecei acompanhando nos textos gratuitos e agora sigo fielmente como assinante paga. às segundas-feiras, ela manda um menu da semana com várias receitas pra você fazer em casa e comer bem.
a carne moída com ovos fritos da foto acima é o meu xodó atual. descobri um mundo de sabores com os temperos do Oriente Médio que eu nunca ousaria usar sem supervisão. rs agora, já estou pensando em como vou incrementar receitas tradicionais minhas com eles. obrigada, Lena! (e chef Yotam Ottolenghi, dono da receita original!)
para você conhecer o trabalho da Lena, que é muito habilidosa com as palavras e escreve textos que precisam ser degustados com calma e atenção, recomendo a edição abaixo. ela fala sobre a Nigella Lawson e sobre ela mesma, mas também sobre mim e, provavelmente, sobre você. a Lena narra um tempo, registra o mundo, nossas vidas. essa carta de amor é linda de ler!
um lugar para conhecer



tento compartilhar menos por aqui dicas muito específicas de Nova York porque sei que elas acabam atendendo a um público muito restrito: pessoas que leem em português e, por algum motivo, estarão na cidade em algum momento próximo. mas, hoje, eu quero muito falar sobre um lugar que eu amo, pra encerrar com afeto: o Rigor Hill Market. ou melhor: o meu café, como eu chamo carinhosamente.



não exagero em dizer que passo lá todos os dias úteis pra comprar qualquer coisinha. sempre, café, que é caro, mas é delicioso. e também é minha deixa pra bons papos com os baristas, que me mimam. amo as saladas, as sopas e o chocolate quente com marshmallow tostado. tudo é fresco e produzido com ingredientes da fazenda do One White Street, restaurante estrelado que é a “mãe” do grupo e fica no prédio ao lado.



se você tiver uma vinda a Nova York programada - especialmente nos próximos meses - vá tomar um café no Rigor Hill e ver a vida passar na vizinhança, sentada numa mesinha do lado de fora. é um carinho no estômago, na alma e nas ideias. e converse com os funcionários! eles todos são muito gentis e simpáticos, e fazem você se sentir em casa numa das maiores metrópoles do mundo.
a foto de capa dessa publicação é uma obra da artista plástica Na Kim.
obrigada pela companhia. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. aguardo suas opiniões e sugestões.
Obrigada pela menção tão carinhosa ♡ Fico muito, muito feliz de saber que a News esteja te inspirando e te levando para a cozinha!
Obrigada pelo carinho e por compartilhar meu trabalho! Feliz que meus textos reverberam por aí <3