na edição de hoje: uma playlist especial, uma cantora, um curador musical e um sonho.
um reecontro recente com parentes que não via há alguns anos me levou a uma investigação sobre minhas referências musicais. explico: todo mundo que eu encontrei nessa viagem disse que, hoje em dia, estou mais parecida fisicamente com meu pai. é verdade, estou mesmo. o nariz, o formato do olhos, as sobrancelhas, a testa são heranças palpáveis conservadas em mim pelo tempo. no campo do invisível, tem duas coisas bem óbvias que nos aproximam até hoje: música e carros.
eu passava muito tempo com meu pai quando criança. minha mãe trabalhava durante o dia e ele tomava conta de mim e do meu irmão nesse período. à noite, os papéis se invertiam. meu pai sempre gostou muito de ouvir música. e, graças a ele, eu sei cantar de cor até hoje o melhor do sertanejo e do forró dos anos 1990 e muitas do Roberto Carlos, claro. o rei era xodó.
meu pai e eu cuidávamos com zelo das coleções de CDs pra evitar qualquer arranhão que pudesse danificar a reprodução do som. teve uma época em que era moda colocar tudo junto dentro de um grande porta CDs. a diversão lá em casa era organizar e reorganizar várias vezes os itens que a gente tinha. nesse período, eu já estava fazendo a transição de Xuxa pra Sandy e Junior.
mais pra frente, na minha adolescência, entraram no repertório do meu pai Kid Abelha, Roxette e Bryan Adams. e o meu repertório, aos poucos, foi se diversificando com essas referências e com o que eu ouvia no rádio do aparelho de som 4 em 1 que ocupava boa parte da estante da sala. entrei na fase das fitas K7 personalizadas. eu amava gravar as músicas numa fita e depois montar meus próprios compilados em outras. e botar pra tocar incansavelmente.
quando meu pai comprou o primeiro carro da família, um gol 1994, verde escuro metálico, o som era uma atração à parte. ele fez questão de ter o melhor aparelho pelo qual podia pagar. e, se não me engano, foi nessa época que os pen drives com músicas em mp3 entraram na nossa vida. a essa altura, a complexidade das referências já era bem maior. escolher as músicas que meu pai, meu irmão e eu íamos ouvir data mais trabalho. tínhamos que negociar pra agradar a todos.
em pouco tempo, cada um de nós passou a ter seu próprio tocador de música e o hábito foi se individualizando. eu queimei muito CD no Nero e sinto saudade às vezes. eu tinha pastas e mais pastas no computador com as músicas organizadas por artistas. quando o Spotify se estabeleceu, eu dediquei um tempo a montar uma playlist com as músicas que foram marcos dessa fase da vida.
é um belíssimo apanhado. passando o olho pela seleção agora, eu noto algumas faltas, sim. e já penso em fazer uma edição mais retrô, com as lembranças da infância. quem sabe. de qualquer forma, reconheço nas canções que estão presentes um cheiro de vida, de história vivida e compartilhada. meu pai, meu irmão e eu temos até hoje uma conexão musical forte e, não raro, quando estamos juntos e toca alguma música desse meu período de formação, a gente só precisa de uma troca de olhares pra compartilhar todas as memórias que ela representa.
outra pessoa foi muito importante pra minha história musical nesse mesmo período: minha amiga Marianna. com ela, eu ouvi de Jennifer Lopez a Linkin Park, e idolatrei Justin Timberlake e Marcelo D2. isso pra citar só alguns. lembro de passar muitas tardes na casa dela ouvindo música. e, muitos anos depois, de ouvirmos música juntas na casa que a gente dividiu quando saiu da casa dos nossos pais. mas isso é história pra outro dia.
atualmente, a Mari é cantora:
eu sei que posso parecer suspeita depois de revelar minha relação pessoal com a artista, mas o clipe tá aí pra provar que Marianna é uma baita cantora (que tá em todas as minhas playlits atuais). as composições dela revelam muito sobre o nosso tempo, as nossas relações e, principalmente, a liberdade feminidade de poder contar a sua própria história, nos seus próprios termos.
as músicas que ela lançou até agora têm uma pegada pop e r&b, com inspirações em divas como Alcione e Beyoncé. eu admiro a solidez com que o repertório dela evolui e vai adicionando sempre um pouco mais de complexidade ao todo. tem música dançante, triste, reflexiva, romântica, é só escolher a sua favorita e colocar na playlist do dia a dia.
inspiração da edição
gosto é como diz o ditado: cada um tem o seu. mas, se você não gosta de música brasileira, é ruim da cabeça ou doente do pé. eu amo e amo explorar as belezas e complexidades do nosso país ouvindo nossa música. mais recentemente, eu tenho amado descobrir novidades acompanhando o Pietro Reis. ele é curador musical e une conhecimento profundo das tradições e faro fresco pra lançamentos, com um estilo despojado e gostoso de ver, ouvir e ler.
o Pietro não fala só sobre música brasileira, mas até as referências gringas dele conversam muito com a nossa cultura e, de alguma forma, complementam a experiência de quem consome o contéudo dele e é amante da música nacional. no Instagram, ele tá entre as contas que mais aparecem pra mim. recomendo o perfil pra quem quer dicas ligeiras e mais objetivas, e gosta de estar por dentro do que está bombando.
se você tem interesse em se aprofundar no assunto, assine a newsletter do Pietro, a Segue o som. é leitura pra ser feita com tempo e o tocador de música ao alcance da mão. a newsletter é gratuita e enviada às segundas-feiras. sempre tem uma entrevista de fôlego com algum artista que vale ser ouvido e lido, além de lançamentos do mercado.
um lugar para conhecer
pela primeira vez, vou usar esse espaço pra um desejo: quero visitar Porto Rico. esse destino estava entre os meus desejos há muito tempo, mas como uma ideia distante. achava interessante e, morando nos Estados Unidos, se tornou mais possível. acontece que esse desejo subiu muitas posições na lista de prioridades depois que eu me viciei em Debí Tirar Más Fotos, do Bad Bunny.
falei sobre o disco aqui e a cada vez que ouço, me encanto por uma música diferente, um aspecto diferente que percebo da cultura porto-riquenha. hoje, compartilho com você mais um motivo pra querer ir e ouvir. de nada.
obrigada pela companhia. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. é onde eu compartilho mais sobre as minhas inspirações, a vida e as oportunidades que eu observo por aí. aguardo suas opiniões e sugestões.
Adorei o texto! Meu pai ouvia muito Rod Stewart, Toots Thielemans, Henri Salvador, MPB 4, João Bosco… Eu adorava ouvir “De frente pro crime”! E foi o cara que me fez amar a Vila Isabel. Fui com ele na festa da escola quando fomos campeões com o lindo “Kizomba”, em 88. Já na lista que vc fez, tem uma banda que eu adoro: Beirut. Viajo muito com as músicas deles!
Música eleva o espírito! Lembro que minha mãe sempre deixava o rádio ligado. Antena 1 FM era a estação favorita dela! Quando a faxina era pesada, a mãe colocava os cds de rock!
A gente (eu e minha irmã) conheceu um pouco de tudo, de tudo um pouco! Eu costumo dizer que não vivo sem música! Em casa, no trabalho, no carro… preciso de música! Qual gênero? Aí depende do humor do dia!
Playlist sugerida salva e tocando com sucesso!