na edição de hoje: uma artista, uma série de fotografias de Nova York e um restaurante novo no Rio.


alguns encontros seguem caminhos curiosos até finalmente acontecerem. em geral, esses são os melhores. não tenho comprovação científica, mas tenho minha experiência como registro. trago um exemplo: meu encontro com Amy Sherald. ela é brilhante e uma das artistas que mais me inspiram. a primeira vez que a arte dela me encontrou foi dois anos atrás.
a Carol, da
, estava num museu na cidade americana de Seattle e me mandou uma foto de uma das obras da artista. era uma lindeza. ficamos encantadas, as duas. na época, aprendi e guardei pouco sobre Amy Sherald: uma pintora americana que tinha decidido retratar apenas pessoas negras em situações cotidianas. ou não tanto. afinal, o trabalho dela ganhou mais projeção depois que ela foi escolhida pra retratar a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama.em janeiro desse ano, distraída, me reencontrei com Amy Sherald. dessa vez, pessoalmente. eu me inscrevi pra participar de um evento em Nova York com a fotógrafa Annie Leibovitz, um ícone. quando cheguei ao Cooper Union, me dei conta de que Sherald estaria ao lado de Leibovitz no evento.
durante uma hora, tive o prazer de ouvir essas duas mulheres inspiradoras se reverenciarem e conversarem sobre seus processos de trabalho. Leibovitz contou histórias de bastidores por trás de algumas fotos históricas, como quando fotografou Demi Moore grávida pra Vanity Fair e insistiu pra que a capa fosse essa, ao se dar conta da potência do registro. Sherald explicou o processo de fotografia antes de pintar seus quadros realistas milimetricamente calculados.
achei no youtube esse registro do evento. é uma gravação amadora e a qualidade do áudio não é a melhor possível, mas vale a pena ver. o mediador da conversa foi o diretor da Fundação Ford, Darren Walker. é admirável nas artistas a coragem e simplicidade com que falam de seus processos, das inseguranças, das apostas e da dedicação necessária o tempo todo - antes, durante e depois da criação.
durante anos, eu li e vi artistas afirmando que arte é muito mais transpiração do que inspiração, muito mais trabalho duro do que um lapso de ideia genial que se materializa. nessa minha busca por entender processos, tenho tido cada vez mais certeza de que esses artistas não me enganaram. rs no vídeo acima, Amy Sherald conta um pouco sobre o ofício dela, as inspirações e os objetivos por trás de cada escolha de ela faz.
tive a oportunidade de assistir a esse relato pela primeira vez na exposição America Sublime, que fica em cartaz até o dia 10 de agosto, no museu Whitney, em Nova York. recomendo muito a visita a quem tiver viagem agendada pra cidade nos próximos meses. a quem não tiver, indico que clique no link acima e que se delicie com o conteúdo rico que está na página do museu.


como é possível ver nas imagens, os personagens de Sherald são retratados com a pele em tons de cinza. é uma decisão da artista pra tirar o foco desse aspecto das figuras e focar na individualidade e no interior das pessoas representadas. além de se inspirar em outros pintores, como Edward Hopper, um dos mestres do retrato cotidiano, ela inclui muitas referências literárias em suas peças, com destaque para Toni Morrison, que é citada nas descrições de muitos dos quadros.
como fã, poderia escrever o triplo do que já escrevi sobre o trabalho dessa mulher sem me cansar ou me repetir. mas acho que parte do que nos faz encontrar o encanto na arte é o processo, também, de descoberta do que vemos. descobri que Sherald é, antes de pintora, uma fotógrafa perfeccionista que cuida de cada detalhe que quer capturar. essa informação me levou a várias outras reflexões que sei que vão perdurar e me influenciar por muito tempo. então, deixo pra você a oportunidade de fazer suas próprias descobertas, afinal, mistério sempre há de pintar por aí.
inspiração da edição
pra quem ainda não sabe, porque não falo muito especificamente sobre isso por aqui, eu também sou fotógrafa. desde bem pequena, eu gosto de fotos. com o tempo, eu fui aperfeiçoando a prática, descobrindo técnicas e, mais do que isso, exercitando meu olhar.
hoje, a fotografia é um hábito que me acompanha a maior parte do tempo, todos os dias. graças aos avanços tecnológicos, ter uma boa lente à disposição é bem mais simples do que já foi um dia. não que isso seja fundamental. pelo contrário: equipamento é o último quesito pra avaliação de uma boa foto.



as fotografias acima foram feitas no último ano. periodicamente, eu crio séries de fotos minhas pra vender à minha rede mais próxima de contatos. sempre escolhi fotos do Rio de Janeiro, por óbvio. era onde vivia. hoje, pela primeira vez, estou lançando aqui na newsletter mais uma edição desse projeto, com fotos exclusivamente de Nova York.
selecionei 20 registros da minha nova cidade que contam muito do que eu vivi e vi depois que me mudei: hábitos, abismos sociais, influências culturais, o belo e o intrigante. eu olho pra cada uma delas e vejo muitas histórias. são fotos que falam de mim e do mundo e que, por isso, foram escolhidas a dedo pra essa série.



cada obra é única e custa r$ 150. as fotos foram impressas em papel de algodão (photo rag 308g), do tipo usado em museus, com durabilidade de décadas. o tamanho é o de uma folha de ofício: A4. a venda vai ser no esquema: pediu, pagou, levou. o pagamento é por pix, que informarei a quem comentar aqui ou no meu instagram. as orientações de conservação são fornecidas junto com a entrega, que será cobrada por fora.
se tiverem dúvidas, me escrevam aqui. e compartilhem com quem vocês acham que podem ter interesse no meu trabalho.
um lugar para conhecer
cozinhar também é arte. cozinhar e empreender, então, exige criatividade multiplicada. estou passando uns dias de férias no Rio e, sempre que venho, tento aproveitar pra conhecer lugares novos. principalmente, os gastronômicos.
portanto, depois de um mergulho nos Estados Unidos, peço licença pra uma indicação gostosa e divertida de restaurante pra visitar na Cidade Maravilhosa: o Tijolada. a graça começa pelo nome. segundo a descrição no cardápio, ele nasceu de um apelido carinhoso da esposa do chef, que tinha um jeito peculiar de demonstrar afeto: a cada suspiro de amor, uma pílula de verdade. ou: uma tijolada.


o bar fica na rua Visconde de Pirajá, esquina em Henrique Dumont, em Ipanema, e é do chef Thomas Troisgrois e da esposa dele, Diana Litewski. abriu em outubro do ano passado. a ideia é ter um cardápio tradicional de boteco, com um toque de sofisticação nos sabores e nos preparos dos pratos. o atendimento é despojado e as mesas ficam na calçada.
a comida estava muito boa, eu saí de lá satisfeita e feliz. poucas sensações são melhores do que essa, vamos combinar. os preços dos pratos principais variam de r$26 a r$70 e, como um bom boteco, sobram opções de petiscos frios e quentes de balcão. é pra fazer um passeio pela tradição, com um pé na inovação.


obrigada pela companhia. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. é onde eu compartilho mais sobre as minhas inspirações, a vida e as oportunidades que eu observo por aí. aguardo suas opiniões e sugestões.
adorei o conceito de arte ser mais transpiração que inspiração. <3
Incrível!! Adorei o texto. Realmente, fazer arte é muito mais transpiração e processo do que inspiração! Me senti representado. hahaha
Ah, e já tô aqui morrendo de vontade de ir nesse Tijolada.