na edição de hoje: uma super novidade, a versão em áudio da newsletter, além de um livro, dois podcasts e um lugar que eu quero muito visitar - e já tem gente visitando e contando tudo pros interessados.
eu adoro falar. entre as formas de expressão, possivelmente, é a que me deixa mais confortável, é um território conhecido, familiar. eu fui uma criança tagarela e acho que isso foi o fundamento desse meu prazer. hoje em dia, eu falo com moderação. em geral, eu ouço mais do que eu falo e meço bem as minhas palavras.
mas eu gosto muito de falar. gosto do som da minha voz, de brincar as com entonações, exercitar as nuances. eu adorava ser repórter de rádio, principalmente, porque eu podia falar. e aí deve ter sido por nostalgia ou porque outro dia uma amiga me disse que eu lia bem ou só porque estava em promoção na internet, que eu comprei um microfone profissional. e agora vocês têm a oportunidade de ouvir essa newsletter.
sim, a ideia de incluir o áudio aqui nasceu da minha vontade espontânea de fazer e compartilhar com vocês uma coisa que eu gosto muito. mais uma, né?
depois do impulso, eu refleti sobre outras motivações menos óbvias que me levaram a ele. a principal, eu acho, é ofecerer uma facilidade pras pessoas sem prejuízo no conteúdo. eu sei que o substack tá enorme e que chegam dezenas de novos textos nas caixas de entrada de vocês toda semana. chegam na minha também. o áudio gravado por mim me parece uma ideia interessante. não é uma leitura automatizada, é humana, sem contribuição de IA, e nos aproxima.
esse é só um teste e eu preciso saber o que vocês acham. por favor, me digam se ouviram ou pretendem ouvir, se acham que vale a pena ter sempre essa opção ou não. mandem opiniões, eu vou adorar lê-las. ou ouvi-las, se for o caso.
outro empurrãozinho que eu tive pra gravar a newsletter foi num evento que eu participei aqui em Nova York nessa semana, o reading rhythms. e agora que eu estou lendo, não vou escrever o nome do evento novamente porque “ritmos”, em inglês, é difícil pra caramba de pronunciar.
brincadeira à parte, fazia um tempo que eu queria ir a um encontro dessa galera e, finalmente, eu consegui na segunda-feira. a ideia é muito original: cada um leva um livro que esteja lendo e conversa sobre ele com desconhecidos. não é clube do livro, você é livre pra levar o que quiser. existe uma dinâmica que divide tempo pra leitura e tempo pra discussão, com algumas provocações pra estimular a troca entre as pessoas. eles chamam de festas de leitura. e é mais ou menos isso mesmo, o clima é muito leve e descontraído.
eu levei O livro branco, da sul-coreana Han Kang, ganhadora do Nobel de Literatura no ano passado. eu nunca tinha lido nada dela e comprei esse livro sem saber muito a respeito. ele é curto, tem capítulos muito pequenos e me pareceu uma boa ideia pro encontro, afinal, eu poderia ler o suficiente pra ter o que comentar com os outros participantes.
e aí que numa das rodas de conversa, eu falei sobre a temática do livro, sobre a estrutura de escrita da autora, e sobre como eu estava gostando muito das duas coisas. quando terminou a rodada de trocas, uma mulher um pouco mais jovem do que eu se aproximou e disse que tinha adoro meu jeito de falar. pensei: é um sinal. e aqui estamos nós.
eu li o livro em inglês. em geral, quando leio algo que não foi escrito originalmente em português ou inglês, escolho a tradução do Brasil, se estiver disponível. penso que é uma camada de subjetividade a menos. além de nós termos ótimos tradutores no mercado nacional. mas abri essa exceção porque o livro me conquistou numa folheada na livraria.
é uma história triste, um romance sobre o luto, abstrato e, ao mesmo tempo, quase palpável. a autora escreve sobre a morte da irmã mais velha, que nasceu prematura e sobreviveu por apenas duas horas fora do útero. Kang descreve grandes acontecimentos, situações corriqueiras, e muitas emoções que, pra ela, só existem por causa da impossibilidade de existência da irmã. parece pretensioso escrito assim, mas não é, pelo contrário, é comedido. ela escolhe muito bem as palavras que usa pra revelar essa intimidade. e é poética.
a narrativa parte de uma lista de coisas relacionadas à cor branca que, na cultura coreana é associada à morte. então, tem capítulos que parecem totalmente desconectados do tema central. até que, páginas adiante, aquele assunto se conecta ao todo apresentado pela autora. é uma leitura instigante e eu me senti desafiada a não mudar o foco da minha atenção enquanto lia. gostei e indico!
ainda no mundinho dos apaixonados por literatura, e por vozes e palavras, a próxima indicação é a edição número 137 d’o podcast dos livros, o 451 mhz. na Feira do Livro do ano passado, a professora e escritora Luana Chnaiderman mediou um papo entre Caetano W. Galindo e Marcos Bagno. que inveja eu senti de cada dono das gargalhadas que são ouvidas ao longo do episódio, perfeitamente nomeado como “palavras, palavras, palavras”.
o podcast é uma aula pra quem é apaixonado pelo poder da nossa língua portuguesa, especialmente a falada no Brasil. é menos de uma hora de conversa, mas tem tanto conteúdo sobre as transformações da língua e as influências que a impactam que parece um papo de 15 horas pra lá. e, incrivelmente, não é uma correnteza louca de conteúdo teórico sobre linguística, é uma troca de bola naqueles minutos finais do jogo ganho, sabe? inclusive, a química desses dois faz boa parte desse serviço de fluidez.
se você quer ouvir boas histórias e ativar seus neurônios com excelentes provocações e reflexões, vai fundo. um spoiler (esse é caça-play): eles opinam sobre linguagem neutra e é muito interessante ouvi-los.
inspiração da edição
faz algum tempo que eu penso em indicar na newsletter esse podcast que divide os meus divertidamentes a cada vez que eu ouço. e, finalmente, na edição mais recente do bate-papo entre os misteriosos Larrys da podosfera, eu me convenci de que era o momento pra compartilhar o Elefantes na Neblina com vocês.
o episódio 114, Rótulos, me capturou em vários momentos, e a seguinte ideia está martelando há dias na minha cabecinha: o intervalo entre a intenção e o ato é o momento da intervenção divina e o momento da intervenção divina é o momento em que você é mais você.
dando alguns passos atrás, acho que vale explicar um pouco mais sobre a dinâmica do podcast. são conversas de três amigos que não se identificam oficialmente e que falam sobre todos os aspectos de todos os assuntos que inquietam a humanidade nesses tempos atuais.
eles vão da filosofia à psicanálise em segundos e nem sempre a linha de raciocínio é fácil de acompanhar. eles mesmos se perdem, às vezes. eu gosto muito de alguns episódios e detesto outros. a maioria, eu diria, tem pontos altíssimos e longos momentos que eu descartaria. mas eu consumo esse podcast mesmo assim, intencionalmente, porque é um exercício radical de alteridade pra mim. eu abro a minha cabeça, faço minhas ponderações enquanto ouço, e dou bons intervalos entre um episódio e outro.
o episódio que eu estou indicando aqui hoje também não se livra de críticas, mas eu gostei muito dele. é o meu favorito do podcast e uma das coisas mais instigantes que eu ouvi nesse ano. os Larrys discutem sentimentos, fazem confissões sobre as vozes internas que falam com a gente e analisam as diferentes intenções que nós temos com a nossa presença e existência nesse planeta.
a pergunta de abertura é: “todo excesso esconde uma falta?”. pensem aí e ouçam o podcast se quiserem uma ajudinha nessa missão.
um lugar para conhecer
em 2014, eu conheci o Caio Braz num curso que eu fiz na Perestroika, quando eles ainda tinham uma unidade no Rio de Janeiro. era um curso sobre cultura e sociedade. o Caio falou, principalmente, sobre tendências de consumo e mercado. desde então, eu acompanho o trabalho dele na internet. ele é um cara muito ligado em novidades e em futuro, e sempre me desperta pra coisas e lugares que eu não estava tão ligada.
nesse momento, ele está na China, gravando conteúdo de excelente qualidade sobre o país. e antes que me digam que todo mundo sabe que agora a China está na moda, o Caio esteve lá em 2011 e voltou com o olhar de quem revisita essa grande potência mundial. eu tô viajando nos vídeos dele. os stories são muito espontâneos e divertidos. os reels do feed são mais elaborados, com roteiro e edição bem caprichados.
o Caio tem uma pegada que mistura uma linguagem fácil com contexto, história e informação. o carisma dele ajuda muito, claro. mas a China faz um belíssimo trabalho, servindo modernidade, complexidade e muita inovação.
obrigada pela companhia até aqui. o áudio dessa edição tá em fase de melhoria, então, mais uma vez, eu convido: me contem o que acharam. até a próxima!
Vivi, que delícia de edição <3 eu AMEI te ouvir!!!!
Ameeei, Vivi. Que voz linda, serena! Delícia te escutar enquanto começava o meu dia por aqui, ainda mais com esses insights e dicas tão valiosos.