na edição de hoje: um lugar que me inspirou, um livro e tudo o que eu achei de Amores Materialistas, sem nenhum spoiler.
nos garimpos que eu faço por lugares novos e interessantes, um dos meus maiores trunfos é manter a intuição ativa. o que eu chamo de intuição aqui é uma mistura de conhecimento adquirido pelas inúmeras pesquisas que eu faço e disposição pra estar aberta ao diferente. eu adoro a sensação de uma descoberta exclusiva. e foi em busca dessa excitação que acabei de frente pra essa parede:
não é raro encontrar referências brasileiras em Nova York, especialmente, as relacionadas à nossa produção musical. mas dessa vez eu fui muito surpreendida. senti as lágrimas chegando e o nó na garganta apertando a cada capa que eu focalizava. não imaginei que uma casa de chá que vende alto-falantes de altíssima qualidade e se define também como listening room ia me transportar pra casa num piscar de olhos.
o silence please fica num dos bairros mais movimentados e barulhentos da cidade - e eu amei a contradição de conceitos. numa tarde quente e ensolarada de folga, peguei meu livro, aluguei uma bicicleta e fui conhecer o lugar. o salão principal, com pé direito alto e uma clarabóia bem no meio do teto fica no segundo andar de um prédio com portaria bem escondida em Chinatown. os vinis e fitas k7 ficam expostos entre esse espaço e o bar.
eu comprei um chá, me esparramei num sofá muito confortável. a música ambiente me levou a um estado quase meditativo. minha atenção se aguçou e eu passei mais de uma hora lendo, mergulhada naquela atmosfera.






de uns anos pra cá, eu tenho tido cada vez a mais necessidade de aproveitar momentos em silêncio, com menos interferências sonoras externas. preciso calar, de tempos em tempos, o excesso de estímulos diários pra abrir espaço pra observação e reflexão. o silêncio tem sido uma ferramenta que me permite estar mais presente e completa, emitindo menos ruídos.
no Rio, eu fazia isso na praia, ouvindo o barulho do mar. agora, encontrei um refúgio aqui em Nova York. a gente silencia como dá. ;-)
e quando não dá pra silenciar, a gente tenta, pelo menos, consumir coisa boa. o livro que eu contei aí em cima que estava lendo é A contagem dos sonhos, de Chimamanda Ngozi Adichie. há dez anos a autora não lançava um romance de ficção. eu confesso que não me empolguei de cara com o livro, só depois de ouvir a Élide, do
, indicá-lo no episódio 45 do salvei.o que me fisgou foi ela dizer que o livro bate muito nos Estados Unidos e que as críticas são alinhadas com o contexto atual do mundo. a Chimamanda é nigeriana e vive, hoje, entre os dois países. o livro de maior sucesso dela é o Americanah, que eu li três anos atrás e gostei muito. lá, já tinha um viés crítico muito forte, principalmente, à política americana.
A contagem dos sonhos avança nesse aspecto. as alfinetadas são mais precisas e refinadas. é interessante notar como a autora mescla a evolução da narrativa com posicionamentos críticos ao longo do texto. outro destaque, pra mim, é a construção das personagens.
o livro conta a história de quatro mulheres negras com formações de vida absolutamente diferentes, mas que se conectam enquanto sonhadoras que são. tem Estados Unidos, Nigéria, Guiné, cultura atual e ancestral. é daqueles romances em que a leitura flui tão bem que você nem percebe que tá indo rápido. eu já comecei a controlar o ritmo pra não acabar logo.
e por falar em desejos… esse comentário final é pra dar água na boca de quem está no Brasil e só vai ver Amores Materialistas nos cinemas depois do dia 31 de julho. o filme estreou aqui na sexta-feira passada e eu, assinante que sou do clubinho da A24, ganhei ingresso pra assistir ao longa no primeiro fim de semana de exibição.
foi uma campanha agressiva de divulgação com o trio de protagonistas interpretado por Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal. diria que gerou um burburinho à altura da comédia romântica que é o novo filme de Celine Song, diretora de Vidas Passadas.
Lucy é uma match maker que mora e trabalha em Nova York. sim, a profissão dela é formar casais. lá pelas tantas, ela conhece o Harry e reencontra o John, tudo no mesmo dia. daí a história se desenvolve e não darei mais detalhes sobre ela. vamos de opinião, então.
eu gostei do filme e pretendo até rever. não é o meu favorito da diretora. inclusive, fiz muitas comparações entre as duas obras. assim como Vidas Passadas, esse tem diálogos excelentes ao longo do roteiro, que é mais linear, e escasso em termos de grandes viradas ou ganchos. da mesma forma, os dois filmes são centrados num triângulo amoroso em que a mulher é o eixo principal e os dois personagens homens são alegorias dos desejos dela de vida.
Amores Materialistas é fofo. tem uma pegada de comédia romântica pop, menos cult. a química do elenco é um ponto altíssimo, encanta logo de cara. adorei a trilha sonora. e acho que, talvez, um pouco mais de tensão tivesse sido interessante. mas a verdade é que eu me diverti no cinema.
obrigada pela companhia. se você curtiu a newsletter, considere compartilhar e divulgar a palavra por aí. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. aguardo suas opiniões e sugestões.
adoro ficar sentado de frente pro mar lendo um livro...