na edição de hoje, eu vou me alongar um pouco, mas não muito. é que eu precisei de mais tempo pra falar sobre a melhor série brasileira dos últimos tempos, e ainda te indicar um ótimo livro, um perfil de uma mulher porreta que tá viajando pela América do Sul e um lugar novo - famosinho - pra comer no Rio. vamos nessa? garanto vai valer cada segundo!
comecei a escrever essa edição quando eu estava me recuperando de uma gripe que virou sinusite que virou tormenta. felizmente, esse texto está chegando até você com a minha recuperação totalmente estabelecida. 🙌 mas, inevitavelmente, ele foi afetado pelos últimos acontecimentos. entre os efeitos colaterais positivos: refleti muito sobre rotina e falta de controle, e escolhi como companhia a série Cangaço Novo, do Prime, que é um primor do nosso audiovisual. primeiro, a reflexão.
nós vamos vivendo a vida - supostamente no automático - até que ela emperra numa gripe (insira aqui o imprevisto de sua preferência). acho que pra sermos funcionais e não pirarmos, adotamos um modo de funcionamento que beira uma espécie de ilusão inocente de que os dias se sucedem como se não dependessem de um planejamento detalhado. faz sentido isso pra você? esse pensamento me acompanhou muito durante esses dias de pausa forçada.
além de tudo o que eu sou pras pessoas que amo (demandas emocionais), eu cumpro uma série de atividades cotidianas que demandam tempo e organização: eu trabalho, eu corro, eu faço terapia, eu estudo francês, e eu tento dar conta de estar atualizada sobre os conteúdos culturais que me interessam. e é inegável que tudo isso funciona porque eu me planejo. mas percebi que eu tinha essa falsa percepção de que era tudo espontâneo.
comecei setembro mergulhada em três semanas que se resumiram a remédios, médicos e o mínimo de ação possível. passei os primeiros dias achando que ia melhorar logo e demorei a aceitar que estava acontecendo exatamente o contrário. é ruim não ter controle, precisar abrir mão de compromissos e deixar de lado o planejamento. mas é pior ainda fingir que não tem nada interferindo na rotina. 🤡
minha vida só ficou mais fácil depois que eu saí da negação (e que o antibiótico começou a fazer efeito!) e aceitei o que se passava. longe de mim hiperdimensionar uma sinusite, mas longe de mim também menosprezar um problema que causa muita dor e incômodos variados. conseguir dar às coisas o tamanho que elas têm está sendo minha maior aliada nos últimos dias. foi essa capacidade que me permitiu parar quando eu precisei e simplesmente retomar num ritmo confortável minha rotina, sem excessos ou receios, quando eu estava me sentindo melhor.
como eu disse no começo, nesse hiato inevitável, eu aproveitei pra assistir à Cangaço Novo, lançada na segunda quinzena de agosto. e, desde então, eu tenho falado incansavelmente sobre os aspectos que eu amei na série. e são basicamente todos. rs eu não paro de pesquisar sobre o processo de criação, as filmagens, os bastidores e tudo o que diz respeito ao projeto.
a história se passa na cidade fictícia de Cratará, no interior do Ceará, às vésperas de uma eleição local. o personagem principal é Ubaldo, um homem que mora em São Paulo e descobre que tem uma herança em Cratará. ele viaja pra lá e tudo se desenrola a partir da chegada dele àquela comunidade.
achei que os trailers entregam muito sobre a série, por isso, não vou colocar aqui e recomendo que não vejam. deixo o vídeo abaixo, com alguns dos atores principais da trama citando motivos pra você ver.
é uma série de ação que explora a questão da violência em cidades do Nordeste, promovida pelo chamado novo cangaço, tocado por bandos de criminosos que atuam principalmente em roubos cinematográficas a agências bancárias. mas não só. as cenas dos crimes são um espetáculo à parte e estão no mesmo nível das melhores produções mundiais do gênero.
mas a essência da história não é essa. são, sim, as relações familiares e pessoais que se desenrolam em meio a um cenário de caos. é uma série visceral, que tá o tempo todo com a tensão no talo. não há espaço pra tranquilidade quando se trata de cangaceiros que não têm nada a perder. mas há momentos ternos e belíssimos, cheios de delicadeza, como a sequência que termina no encontro de Dinorah e Lino num açude.
Dinorah, aliás, é a irmã de Ubaldo e única mulher do bando de cangaceiros de Cratará. a personagem de Alice Carvalho é hipnotizante, explode em cena a cada fala. ao contrário do irmão, que implode, como definiu o intérprete Allan Souza Lima numa entrevista. cada gesto contido e cada ausência de reação de Ubaldo fazem o espectador quase que sentir na pele o desconforto daquele estranho no ninho. as atuações me impactaram muito, tanto que fui atrás de informações sobre a preparação do elenco. e descobri que a responsável foi Fátima Toledo, que trabalhou também em Tropa de Elite. dá pra imaginar o nível de intensidade, né?
outros aspectos que me tocaram mais foram o roteiro, a locação e a fotografia. esses dois últimos pontos conversam muito entre eles. a série foi criada e roteirizada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, e demorou 10 anos pra ficar pronta. as filmagens foram em cidades do sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte, o que teve influência direta na fotografia absurda de @azulserra.
são oito episódios de 50 minutos. dá vontade de maratonar, mas alguns episódios pedem uma tomada de fôlego antes de continuar na companhia da família Vaqueiro.
vou deixar uma lista conteúdos que eu recomendo sobre a série:
entrevista com os criadores de Cangaço Novo.
essa entrevista com Alice Carvalho, Thainá Duarte e Allan Souza Lima.
8 curiosidades sobre a produção.
a crítica do PH Santos, que foi a que eu mais gostei das que eu vi.
a crítica da Isabella Boscov, para ver.
a crítica da Patrícia Kogut, para ler.
essa reportagem sobre a Alice Carvalho, que é uma multiartista com uma história incrível.
uma entrevista com os criadores da série, com referências muito legais que os inspiraram na realização do projeto.
e pra garantir um risada, esse vídeo maravilhoso de bastidor que Alice Carvalho publicou.
outra companhia dos meus dias de repouso foi o livro Formas de voltar para casa, do Alejandro Zambra, que já entrou na lista dos meus favoritos desse ano. é a terceira obra do escritor chileno e é uma leitura rápida. porque o livro tem poucas páginas, mas também porque o autor constrói a narrativa de um jeito que parece uma conversa com o leitor. a história começa no Chile que vive o auge da ditadura Pinochet, nos anos 1980.
“com arrogância ou com inocência, ou com uma mescla de arrogância e inocência, os adultos brincavam de ignorar o perigo: brincavam de pensar que o descontentamento era coisa de pobres e o poder, assunto dos ricos, e ninguém era pobre nem rico, pelo menos, não ainda, naquelas ruas, naquela época.”
e se desenrola acompanhando o crescimento do narrador, que é também escritor. o que eu mais gostei foi a forma como Zambra conseguiu dar delicadeza e leveza a uma narrativa que é toda marcada por um período de violência política e natural. além da ditadura, que foi uma das mais sangrentas da América Latina, dois terremotos atingiram o Chile no período narrado.
inspiração da edição
vamos continuar aqui pela América do Sul mesmo. eu apresento a você a @complexica, ou melhor, a Jess Pádua. ela é uma mochileira de Goiás que está desbravando nossa região sozinha há um ano e meio, e compartilhando muito conteúdo valioso - e divertido e poético - sobre as maravilhas e os perrengues envolvidos nessa aventura.
ela divide muito as experiências pessoais dela, de um jeito autêntico, e, principalmente, muito informação relevante. mesmo quem não pensa em fazer um mochilão, pode aprender muito sobre a cultura latina, os hábitos, os idiomas, as crenças, acompanhando o perfil dela. e é por isso que eu recomendo a todos.
e, pra quem tem vontade de viajar, a recomendação é em dobro porque a Jess faz muitas publicações boas e detalhadas pra viajantes, desde hospedagens até melhores regiões pra ficar em cada país dependo do seu perfil de turismo. é o pacote completo! e vale muito clicar pra ler o post abaixo.
na próxima sexta-feira, os assinantes que contribuem financeiramente com essa newsletter vão receber uma edição extra mensal com dicas de livros, séries, receitas e o que mais de legal eu vi por aí em setembro.
a lista de agosto ficou assim. se você curtir, considere assinar um plano mensal ou anual por aqui. você apoia o meu trabalho e recebe conteúdo exclusivo todo mês!
um lugar para conhecer
amantes de comida boa, chegou o momento de vocês! escolhi uma novidade de Botafogo pra indicar aqui: o Dainer.






é, é um restaurante muito instagramável. e a comida, não se preocupem, está à altura da decoração. eu fui tomar café da manhã, comi uma torrada petrópolis com requeijão na chapa, formando aquela casquinha tostada bem típica de São Paulo, e tomei um café gelado com leite e crostinhas de mel. o café estava absurdamente gostoso, muito diferente de outros que eu já provei. voltaria lá só por esse honey comb latte. de sobremesa, dividi com uma amiga o pavê de chocolate branco com calda de maracujá e manjericão. é servido de colherada, direto da travessa, gostei, achei a porção generosa. estava tudo gostoso.
o cardápio tem muita opção e os pratos são bem variados, não focam num tipo de cozinha específica. então, acho que é legal pra ir em grupo e pedir várias coisas pra compartilhar - uma tendência que eu vi numa viagem fora do Brasil, ano passado, e que percebi que tem chegado com força aos restaurantes aqui do Rio. já notaram também? ah, eu fiquei de olho no estrogonofe do almoço, com a carne finalizada na lenha.






o Dainer fica na rua Real Grandeza, 193, em Botafogo, e o horário de funcionamento varia muito, então, sugiro dar uma olhada no instagram deles antes de ir. o preços não são baixos, mas também não são fora da curva de um café diferente na Zona Sul do Rio. tem o menu completo no instagram!
dica extra de moradora: a fila para entrar tem ficado imensa nos fins de semana, com mais de uma hora de espera. então, se você tiver disponibilidade para uma visita em dia útil, vá sem medo. eu cheguei lá umas 9 horas, numa quinta-feira, e foi muito tranquilo.
setembro foi um mês atípico e a troca que a newsletter me proporcionou foi muito importante pra me manter motivada. obrigada por entrar em contato! nossa edição gratuita volta daqui a 15 dias, na véspera do feriado, e eu tô muito animada. desejo que você também!
como sempre, peço que mande suas sugestões, impressões, críticas, elogios. são essas mensagens que me ajudam a pensar no que faz sentido dividir por aqui. 😊
quer saber um pouco mais sobre mim? tem lá em @vivi_dacosta ✨
Estou bastante atrasada com a leitura da news, mas gostaria de lhe dizer que você está fazendo um excelente trabalho ❤️
Super entendo a questão do planejamento, mas no meu caso... Sempre fui muito planejadora, então tenho consciência do passo a passo das coisas que faço, porém adoecer é algo totalmente fora do nosso controle. Qdo vem geralmente fico pensando "será rápido" hahaha às vezes não é e aí desanda minha mente junto. Trabalhando para melhorar isso. Adorei as dicas, ainda vou assistir Cangaço Novo, estou curiosa!