#7 a Bahia me deu régua e compasso
peço licença ao mestre Gil e assumo o risco de ser monotemática



começar o texto com uma ordem pode soar um pouco deselegante, mas eu juro que é com a melhor da intenções: viaje! vá pro lugar que você sempre quis conhecer. de preferência, com uma companhia especial. eu voltei pra casa, mas estou escrevendo com coração, mente e alma há quilômetros de distância daqui. e tentando evitar todos os clichês que parecem absolutamente perfeitos pra definir a experiência que eu vivi. o bom é que eu já falhei no título, o que me dá carta branca pra ser clichê no resto da edição, né?
pessoalmente, não tenho paciência ou disposição pra resoluções de ano novo, mas, o final de 2020 chegou e, depois de uma pandemia, eu decidi escolher 10 metas pro ano seguinte. de lá pra cá, ficaram todas elas repousando, tranquilas, numa caixa onde eu guardo meus cadernos usados. até agora. eu passei alguns minutos revirando páginas e achei a bendita lista cujo segundo item é: conhecer a Bahia. era a única meta que eu me lembrava de ter escrito e foi muito interessante confirmar que ela é a única que ainda faz sentido pra mim, hoje em dia. demorou dois anos até que uma proposta inesperada - pra abraçar o inesperado -, enfim, me fizesse realizar esse desejo. e como valeu a pena a espera!



eu poderia compartilhar um guia com informações úteis sobre a Bahia (vou dar algumas dicas lá embaixo!) ou fazer um texto contemplativo baseado no meu diário de viagem. mas não seria justo. essas férias não se resumiram a conhecer lugares específicos e seguir um roteiro pré-estabelecido. muito menos caberiam em cinco ou seis minutos de leitura. embora eu tenha tentado fugir dos clichês, a verdade é que essas férias me trouxeram a oportunidade de fazer uma viagem transformadora, em que eu acessei inseguranças e alegrias inéditas. sabe aquela história de viajar pra fora e descobrir um mundo dentro (da gente)? ela existe! e, pra mim, aconteceu na Bahia, o que foi um bônus muito especial.
“Acho que Salvador em particular é um daqueles lugares para onde, independentemente de qualquer coisa, as pessoas devem vir. Até quem tem medo de viajar, até quem diz: ‘Pois é, mas eu ouvi falar que…’ Não! Sabe por quê? A vida existe para ser vivida, cara. Você não pode perder um lugar como este porque não existem muitos lugares no mundo que sequer cheguem perto.”
o trecho acima é do livro “Volta ao mundo”, de Anthony Bourdain e Laurie Woolever. eu ganhei esse presente de aniversário da Manu e da Luiza, em 2022, e lembro que a primeira coisa que eu fiz foi ler a indicação brasileira do badaladíssimo chef e escritor. agora, quando voltei de viagem, peguei o livro na cabeceira e li de novo as palavras dele sobre a capital baiana. constatei que elas não poderiam ter se reapresentado pra mim em melhor momento.
eu sempre viajei com tudo planejadinho, nos mínimos detalhes. pensando em retrospecto, acho que essa foi a forma que sempre me pareceu a mais “garantida”, a que supostamente me faria ter a melhor das experiências, a que poderia driblar os medos. sempre empenhei pesquisas de meses em busca das passagens mais baratas, dos hotéis mais bem localizados, das rotas mais interessantes. era como se fosse possível controlar a forma como eu me sentiria quando viajasse só porque a entrada daquela atração turística popular tinha sido comprada antecipadamente.
é claro que é divertido começar a viagem antes da viagem e criar expectativas. mas essa viagem de agora me fez perceber que o excesso de planejamento mata a espontaneidade - e que o inesperado pode ser maravilhoso e inesquecível. quando meu namorado e eu saímos do Rio de Janeiro, não tínhamos nem data de retorno definida. pra mim, aquele momento era o início de uma aventura sem precedentes, e eu tinha lá minhas dúvidas se conseguiria chegar a Salvador ou se iria arregar na primeira parada.
mas, depois da primeira noite, quando eu vi que a gente não ia precisar dormir no meio do nada por falta de hotel (sim, eu tinha esse medo!), uns 70% das minhas paranoias foram embora e eu passei a curtir cada momento com uma sensação diferente e deliciosa de novidade. dez dias depois, as várias previsões de que eu ia amar a Bahia se cumpriram, eu fiquei até triste quando voltei pro Rio, coisa que nunca tinha acontecido comigo.
eu vou guardar as lembranças de cada cidade que eu conheci com muito carinho, pra sempre. principalmente, as intangíveis, as memórias de cada experiência. mas, sem dúvidas, o significado dessa viagem pra mim é, percebo agora, impossível de descrever totalmente. só sei que a Bahia me deu régua e compasso pra ser uma nova viajante - que talvez até faça uma reserva ou outra de hotel no próximo destino -, mas que sabe que as surpresas incríveis precisam de liberdade pra existir.
inspiração da edição
coincidentemente ou não (eu sei que não), dias depois disso tudo que eu contei pra vocês, veio ele, o mais temido, o algoritmo do instagram, sugerir pra mim as publicações da Tamara Klink.



eu já conhecia alguns detalhes sobre a vida dela, como: Tamara é uma jovem navegadora e escritora que fez travessias marítimas inéditas, como cruzar o Atlântico sozinha num veleiro. ela foi a a brasileira mais jovem entre homens e mulheres a fazer isso.
o que eu não sabia é que agora ela está agora na Groenlândia depois de ter se tornado, em setembro, a primeira brasileira a cruzar o Círculo Polar Ártico, aos 26 anos. e também não sabia que ela vai passar 200 dias no mar congelado, sozinha, dentro do barco.
eu passei horas lendo tudo o que a Tamara publicou nos últimos dias sobre essa viagem, a preparação pra esses mais de sete meses no meio do gelo, e estou encantada. principalmente, com as reflexões dela sobre todo o processo. os vídeos que ela grava pra avó são de chorar, muito lindos. só posso sugerir que sigam essa jovem aventureira e se inspirem pelos projetos de vida - e viagens - dela!
10 coisas para fazer na Bahia
decidi colocar as sugestões em ordem cronológica porque foi impossível priorizar um ou outro item. aproveitem!



ir por Minas Gerais. muita gente que vai do Rio pra Bahia de carro escolhe a estrada que passa pelo Espírito Santo, mas sugiro fazer um desvio, subir a serra, e escolher alguma cidade mineira pra comer bem e já sentir o clima de estar fora de uma cidade grande com seus prédios espelhados e poluição. rs



conhecer a cidade de Prado, no sul da Bahia. foi uma grata surpresa sugerida pelo Booking, e ganhou meu coração. a cidade tem pouco mais de 28 mil habitantes, uma rua de restaurantes muito fofa, chamada de Beco da Garrafas, e praias lindas. achei que é uma boa opção de parada pra quem quer ficar ali pelo extremo sul baiano.
comprar e levar pra casa o chocolate da Fazenda. parte da região que eu visitei é conhecida como Costa do Cacau, ou seja, chocólatras, agendem a viagem! provei vários chocolates e o que me conquistou foi esse, comprado numa loja na beira da BR 101, altura do km 800, sentido Eunápolis, em Itamaraju.



almoçar no Culinária Central, em Caraíva. vale a pena esperar um pouquinho na fila pra dividir os pratos que servem duas pessoas e são muito saborosos.



fazer a trilha das 4 praias, em Itacaré. é uma trilha bem fácil que passa por quatro praias paradisíacas. a entrada fica a 12 quilômetros da cidade, na estrada. você estaciona o carro e caminha 15 minutos até a praia da Engenhoca - que tem encontro de rio com mar - e, depois, vai seguindo para as outras três praias. é tudo bem fácil de fazer sem guia.



lanchar na creperia Tio Gu, em Itacaré. peça o molho de pimenta da casa. foi o melhor que eu provei na viagem inteira. e tem vários sabores de crepe pra você escolher e recarregar as energias no pós-praia. vi que eles têm unidades também em Salvador e Brasília.
jantar no Jiló, em Itacaré. adorei a comida e o atendimento. o cardápio tem propostas diferentes dentro da culinária nordestina, com preparos e apresentações surpreendentes. pra uma refeição mais especial, vale pedir mesa no segundo andar e ter a vista do mar à sua disposição.



fazer a travessia de ferry boat de Itaparica pra Salvador. cruzar a Baía de Todos os Santos no cair do dia foi uma experiência emocionante. a luz era um espetáculo à parte. observar Salvador “chegando”, de dentro do barco, é inesquecível. aqui você pode consultar valores.
contemplar o pôr do sol no Farol da Barra. depois de uma chegada espetacular a Salvador, não teve como a parada seguinte ser outra.



visitar a casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, no Rio Vermelho, em Salvador. a última casa onde o casal de escritores viveu ainda tem muitos objetos “originais” e uma parte memorial, que conta um pouco da história deles, super bem pensada e apresentada aos visitantes. às quartas, a entrada é gratuita.
deu uma saudade gostosa de escrever por aqui nesse mês que passou. você também sentiu falta dessa nossa conversa quinzenal? eu, além de viajar, driblei esse hiato de escrita com muitas anotações, fotos, ideias de formatos e listas de conteúdos pra próxima edição pós-férias, já de volta ao Rio de Janeiro. ah, e me conta o que você achou da edição de hoje: se curtiu, se não gostou tanto, se quer saber mais…
lá em @vivi_dacosta eu compartilho um pouco mais sobre minhas inspirações e minha própria vida. não sou uma usuária muito frequente, mas dá pra gente trocar boas ideias. 😎
Ahhh que delícia!!! A Bahia é mesmo especial <3
Edição que fala do fundo da alma e se conecta com os nossos desejos adormecidos...
Me deixou com vontade iminente de conhecer a Bahia... Obrigada por tanto, sempre!