na edição de hoje: um livro, dois podcasts, uma artista incrível (que apresenta um dos podcasts!), uma série, um projeto pra celebrar nossa latinidade e um restaurante excepcional no Rio de Janeiro. é, as férias acabaram mesmo!
eu achava que não era capaz de ler um livro em inglês. até a semana passada. quem me conhece um pouquinho pode achar estranho, afinal, eu trabalho com informações em inglês há mais de cinco anos e leio um grande volume de notícias diariamente. se eu imprimir e encadernar, tenho certeza que dá, pelo menos, um livro por dia. nem que seja desses de 50, 60 páginas. rs
mesmo assim, eu nunca tinha começado e terminado de ler um livro inteiro de ficção em inglês. li capítulos, trechos, poesias, contos. e isso era uma questão pra mim. veja, eu tinha os livros na minha estante, lia as resenhas sobre eles em inglês, trouxe de viagem edições ainda sem tradução no Brasil e morria de vontade de mergulhar nessas leituras, mas faltava coragem. logo eu, que tenho a palavra tatuada em mim.
bom, essa insegurança foi superada, é por isso que eu estou escrevendo hoje. mas, antes de falar um pouco mais sobre ela, eu quero recomendar que você leia Peitos e ovos, da Mieko Kawakami ou (Breasts and eggs 💜). o livro se passa no Japão e conta a história de três mulheres: duas irmãs e a filha de uma delas. são mulheres trivialmente espetaculares, cheias de desejos e inseguranças. Makiko tem 39 anos e uma insatisfação latente com o próprio corpo. a irmã dela, Natsu, tem 30, e é uma aspirante a escritora que não se imagina fazendo outra coisa, mas que se sabota e não leva o projeto pra frente. Midoriko, filha de Makiko, é uma adolescente que compartilha num diário suas percepções sobre o mundo e que decidiu parar de se comunicar verbalmente com a mãe. essas três mulheres se reúnem em Tóquio, na casa de Natsu, e é a partir desse encontro que o leitor começa a entender o universo de cada uma delas.
“If you want to know how poor somebody was growing up, ask them how many windows they had. Don’t ask what was in their fridge or in their closet. The number of windows says it all. It says everything. If they had none, or maye one or two, that’s all you need to know.”
“Se você quisesse saber o quanto uma pessoa já foi pobre, poderia perguntar o número de janelas que tinha na casa onde ela morava quando criança. O que comia e o tipo de roupa que usava não dizem muita coisa. Se você quisesse saber o nível de pobreza de uma pessoa, bastava saber o número de janelas. Sim, pobreza equivalia ao número de janelas. Se não havia janelas, ou se eram poucas, geralmente poderemos inferir quão pobre ela era.”
Essas são as primeiras frases do livro. A tradução é da versão brasileira, feita por Eunice Suenaga.
eu sei que há um salto temporal no livro, mas ainda não cheguei lá. a edição que comprei tem pouco mais de 400 páginas. eu li 1/3, mais ou menos. então, sim, tecnicamente, ainda não li um livro inteirinho em inglês. mas não tenho dúvidas de que esse vale a leitura. a história e as personagens são cativantes, e isso é algo que eu considero muito quando avalio e indico obras literárias.
sobre o inglês, bom, ele não é mais uma questão. talvez nunca tenha sido?
eu peguei esse livro pra ler com uma estratégia em mente: ir devagar e tentar não surtar se a leitura não engrenasse. inicialmente, eu queria ler 5 páginas, uma meta que me pareceu razoável. de repente, eu tinha lido quase 30 de uma vez, algo que às vezes nem em português eu faço. uma boa calibrada na generosidade e na expectativa, e uma leitura interessante, domaram o bicho-papão que estava na minha cabeça. às vezes, é só disso que o que nos assusta precisa pra ir embora.
minha relação com o aprendizado de inglês foi tardia. eu nunca gostei da língua quando criança. diante de uma oportunidade de fazer cursinho, na adolescência, não pensei duas vezes: escolhi o espanhol. achava lindo. fiz aulas por um ano, feliz da vida, aprendi de cabo a rabo Estoy Aquí, da Shakira, peguei eletiva na faculdade, e sigo apaixonada pela língua espanhola até hoje. enquanto não volto aos estudos, presenteio meus ouvidos com podcasts em espanhol. nem sempre eu entendo tudo, mas acho tão gostoso de ouvir, é um deleite.
ultimamente, estou obcecada por Participantes para un delirio, da artista Coco Dávez, que é uma obsessão mais antiga minha. no podcast, ela conversa com pessoas criativas sobre todos os assuntos. acho que por não conhecer os entrevistados, tenho sempre uma sensação muito boa de surpresa com as reflexões e os diálogos. o último que ouvi foi com a atriz Victoria Luengo, que falou muito sobre o universo feminino, sobre privilégios e desafios. no final do episódio, Victoria respondeu a uma pergunta que achei curiosa e decidi trazer pra cá: se você tivesse o poder de invocar num estalar de dedos a euforia ou a calma, qual seria? espero sua resposta, com justificativa!
se você quiser conhecer um pouco mais sobre a Coco Dávez - o que eu recomendo muitíssimo -, vale ouvir esse episódio aqui do podcast Vidas contadas:
como fã, adorei ouvir a Valeria Palmeiro (nome verdadeiro dela). e, como curiosa que sou, gostei muito de saber mais sobre como é ser artista na Espanha, além de perceber que há muito mais em comum do que eu imaginava entre o jeito de pensar espanhol, genericamente falando, claro, e o brasileiro.
e para não dizer que inglês e espanhol não combinam, trago uma excelente evidência de que essa pareja dá match. a série O faz nada, disponível no Star+, tem só cinco episódios de meia hora e poderia ter mais uma dezena, de tão saborosa que é. Manuel Tamayo Prats (Luis Bradoni) é um crítico gastronômico lendário de Buenos Aires (a série é também uma grande homenagem à cidade), com um jeitinho bem peculiar. um dos melhores amigos dele? Vincent Parisi, personagem do convidado especial Robert De Niro. não contarei mais pra não estragar a experiência.
inspiração da edição
já que hoje eu tô bem gringa, vou indicar aqui o projeto Somos, que se propõe a colaborar pra uma “reescrita” da narrativa latina, contando histórias, e celebrando identidades, estilos, e contribuindo pra noção de comunidade.
acompanho muito o trabalho deles no Instagram e amo a variedade de assuntos e a leveza que eles conseguem imprimir em todo tipo de conteúdo, até os mais densos. a identidade visual é um destaque à parte: as cores, a vibração, acho tudo muito alegre e convidativo, sem aquele padrão minimalista que deixa os perfis meio parecidos em excesso. abaixo, um pouquinho de Brasil, iá iá.
um lugar para conhecer
de volta ao Rio, vou falar de comida e dar uma dica muito boa pra quem gosta de conhecer novos restaurantes sem gastar tanto. veja, vai ter que gastar alguma coisinha, mas vou compartilhar meu truque pra economizar um pouco na conta e ainda evitar filas.
primeiro, a dica: visite o restaurante Ocyá, que tem duas unidades: na Gigoia e no Leblon. eu conheci a casa da Zona Sul e já adianto que a experiência é diferente da que se tem na ilha. é importante levar isso em consideração.



o Ocyá é um restaurante focado no mar. o chef Gerônimo Athuel é também pescador e tem um projeto de integração da cozinha dele com o ecossistema e a subsistência. os pratos exploram todas as partes dos pescados. a experiência de quem come é muito marcada por surpresas que vêm de preparos e ingredientes inesperados.



eu já fui duas vezes e pedi opções do cardápio regular. tudo o que eu provei estava absolutamente perfeito e delicioso. o destaque absoluto, pra mim, é o peixe maturado com maionese de ponzu. as sodas da casa e o picolé de coco com chocolate branco, ganache de chai e coco queimado são itens que eu consumiria diariamente, com tranquilidade.
dito isso, atenção à dica: o Ocyá, como alguns outros restaurantes da Zona Sul do Rio, tem uma opção de cardápio mais convidativo pro seu bolso, durante o horário de almoço, em dias úteis, quando os restaurantes costumam estar mais vazios. em geral, dá pra ter uma boa experiência em uma hora, uma hora e meia de permanência. sei que nem todo mundo pode almoçar na rua durante a semana, mas deixo a sugestão pra quem pode. fique de olho no instagram dos lugares que você quer conhecer, vai que surge uma boa oportunidade!
semana que vem vou publicar as recomendações de novembro. e, daqui a 15 dias, mais uma edição regular de vai sem tempo mesmo. confesso que já estou cheia de ideias, acho que é o fim do ano chegando. por aí, você é do time da animação ou da quietude nessa época de fechamento de ciclo? 😉
lá em @vivi_dacosta eu compartilho um pouco mais sobre minhas inspirações e minha própria vida. não sou uma usuária muito frequente, mas dá pra gente trocar boas ideias. 😎