#12 herança cultural
uma reflexão sobre as influências que ficam e se transformam com a gente
na edição de hoje: filmes, filmes, muitos filmes. um pouco de nostalgia da minha parte. e meu restaurante do momento aqui no Rio.
todos os anos, a proximidade da cerimônia do Oscar desperta em mim emoções muito específicas, que me levam diretamente à minha infância. lá em casa, nós não crescemos vendo os clássicos, muito menos assistíamos aos últimos lançamentos assim que eram lançados. temos nossos filmes de estimação que, até hoje, são nossos ícones: Uma linda mulher, O Rei Leão, o Mágico de Oz... nossa formação cinematográfica foi construída à base de muita Sessão da Tarde, fitas VHS e, mais tarde, já na adolescência, locações infinitas de DVDs que, às vezes (muitas), iam só passear lá em casa.



mesmo assim, nós sempre amamos assistir às cerimônias do Oscar. nesse caso aqui, nós somos minha mãe e eu. mesmo sem saber sequer do que tratavam os filmes concorrentes, nós não perdíamos as transmissões. nunca conversei com ela sobre nosso fascínio compartilhado, mas arriscaria dizer que os meus motivos têm muito dela. eu adorava o espetáculo visual, a pompa, o tom solene. e eu amava ouvir as análises, prestar atenção aos detalhes, absorver as informações. isso é bem minha mãe, percebo agora.
por óbvio, assistir ao Oscar tem um valor sentimental imenso pra mim. mas, hoje em dia, eu sou mais profissionalizada. rs acompanho a pré-temporada de lançamentos, leio críticas, faço listinhas de filmes que quero assistir antes do “grande dia”, e falo muito com os amigos sobre as minhas impressões. e, como meus novos (alguns, os antigos de sempre) amigos, vocês terão a oportunidade de participar dessa minha tradição que se renova - e se modifica um pouco também - a cada ano.
não consegui assistir a muitos dos concorrentes ainda, a maioria está estreando agora no Brasil e eu já comecei a surtar tentando arrumar espaços na agenda pra zerar a lista de desejos. do que vi, quero destacar três que estão em cartaz nos cinemas e que eu acho que merecem sua atenção.
Vidas passadas. a vida que você vive é a vida que era pra ser? não quero saber se você é feliz, se você se arrepende de algo, se você acha que podia ser melhor ou pior. eu quero saber se essa pessoa que você é nessa vida te parece ser o que era pra ser. eu poderia usar só essa provocação pra te convencer a assistir a Vidas passadas, né? mas não seria justo com o filme, que é uma obra pra quem sente muito.
eu mesma já vi duas vezes e pretendo ver mais uma no cinema, pelo menos. é que eu me apaixonei pela simplicidade complexa da história de uma mulher e um homem que se conhecem aos 12 anos, se separam, se reencontram virtualmente 12 anos depois, e se separam de novo até, finalmente, se reencontrarem pessoalmente 24 anos depois da primeira separação. a vida que acontece nas brechas e se impõe, apesar do que poderia ter sido, é do que se trata esse filme, que tem fotografia e diálogos belíssimos.
Segredos de um escândalo. achei o filme perturbador e eu adoro quando a arte me provoca desconforto. o título em inglês é May December, uma expressão pra se referir ao relacionamento de duas pessoas com uma diferença muito grande de idades. como é o caso do casal de protagonistas, interpretado por Julianne Moore e Charles Melton. eles já estão juntos há décadas quando a personagem de Natalie Portman passa a conviver com os dois. Elizabeth é atriz e vai atuar num filme sobre a história do casal. a convivência do trio expõe traumas não superados, mas não de um jeito maniqueísta. recomendo muito que, depois de assistir ao filme, você leia essa crítica da Paula Jacob.
Anatomia de uma queda. um homem morre. a suspeita principal é a esposa. o filho, única testemunha, tem deficiência visual e encontra o corpo do pai caído na neve depois de um passeio com o cachorro. dentre os muitos aspectos que eu poderia destacar desse filme, fico com o brilhantismo da diretora Justine Triet, que confina o espectador numa rede de versões e possibilidades construída a partir de muitas falhas de comunicação. e o conduz não a querer saber o que realmente aconteceu, mas a um embate moral intrinsecamente nebuloso. a personagem Sandra, um show de atuação de Sandra Hüller, é alemã, casou-se com um francês - o morto - e vai à julgamento na França, sem total domínio da língua, o que a faz recorrer ao inglês em diversos momentos. no tribunal, a gente descobre que essa não era a única barreira que o casal enfrentava. uma história que não é nova, né? mas o mérito do filme está na forma como ela é contada.
pra não dizer que não falei dos que estão nos streamings…
indiquei Assassinos da Lua das Flores brevemente aqui e realmente acho que é um filme que vale a pena ser visto no cinema, mas, na falta de opção, também vale ver em casa, claro. tem no Prime pra alugar. é grandioso, e tem cenas e diálogos memoráveis. são três horas e meia (!) de uma história baseada em fatos reais sobre as mortes suspeitas de indígenas muito ricos, da tribo Osage, nos Estados Unidos dos anos 1920. não vou cravar que é meu escolhido pra levar Melhor Filme porque ainda faltam muitos dessa lista pra mim, mas é o franco favorito até agora. o que eu cravo é que Lily Gladston apresenta uma das melhores atuações que eu já vi na vida e merece ganhar o prêmio de Melhor Atriz.
falei um bocado sobre Barbie em agosto e, apesar de críticos e tuiteiros terem achado que o filme foi esnobado pela Academia, eu vejo mais o copo meio cheio. achei os concorrentes muito fortes nesse ano, principalmente, nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Direção. ao mesmo tempo que amei a forma como a Greta Gerwig atualizou a história da boneca de plástico estereotipada, acho que outros diretores se destacaram mais em seus trabalhos nessa safra. de toda forma, reforço a indicação! tem no Prime e na HBO.
e por falar em esnobadas, quero indicar também Saltburn, que não recebeu nenhuma indicação, mas conquistou o público. achei o filme provocador e, por isso, o recomendo. o roteiro de Emeral Fennell, que venceu um Oscar na categoria por Bela vingança, tem alguns buracos e não explica algo que, pra mim, é fundamental: a motivação do protagonista. mas, a obra te prende, é certeira na sátira que faz do “mundo dos ricos” e oferece uma cena final emblemática, apesar de pouco elucidativa.
o filme conta a história da amizade improvável de Oliver e Félix. o primeiro, uma figura misteriosa que se apresenta como um jovem de origem humilde e sem círculo social. o segundo, o mais popular de Oxford. uma temporada de verão na mansão da família de Félix revela as nuances psicológicas - e perturbadoras (reais até demais, talvez?) - deles e dos personagens do entorno. o filme é interessante, apesar da sensação de “quase” que paira sobre ele mais tempo do que o necessário.
a cerimônia do Oscar desse ano - para os que foram convidados - será no dia 10 de março. até lá, os filmes que eu quero ver são, em ordem de preferência:
American fiction, To kill a tiger (esse documentário tem um time de produtores que me emocionou quando eu vi: Dev Patel, Mindy Kaling e Rupi Kaur), Os rejeitados, Homem Aranha: através do Aranhaverso (ainda preciso ver o primeiro!), Perfect days, Zona de Interesse, A memória infinita, O menino e a Garça, Pobres criaturas e Oppenheimer.
você já viu algum desses? conta aqui nos comentários o que achou, qual recomenda, qual decepcionou?
inspiração da edição
eu fui uma criança apaixonada pela Espanha. fiz curso de espanhol antes de fazer de inglês. lia obsessivamente sobre o país nos livros que minha mãe comprava na banca de jornal. eu achava “o máximo” tudo que era da Espanha. alguns anos atrás, tive a oportunidade de visitar o país e confirmar meu encantamento.
até hoje eu adoro consumir conteúdos espanhóis e, pra surpresa de ninguém, eu me apaixonei pelo projeto da Cecilia Camacho, o CC/magazine, assim que eu conheci. é uma revista online independente que trata sobre tudo que eu amo: cultura, tendências, viagens… e olha essa identidade visual, que lindeza!


no site, tem conteúdo em espanhol e em inglês. aqui tem a parte de cinema, com críticas muito completas de alguns dos filmes que estão na corrida do Oscar.
um lugar para conhecer
de volta ao Rio! eu amo desbravar a cena gastronômica carioca e experimentar criações culinárias. eventualmente, algum restaurante novo me conquista a ponto de eu fabricar motivos pra voltar, voltar e voltar. foi o caso do Toto, na rua Joana Angélica, 155, em Ipanema. eu me apaixonei pela mistura de tradição e inovação do chef Thomas Troisgros. li que ele serve coisas que gosta de comer, com técnicas francesas e sabores do mundo todo.
no cardápio, há clássicos como homus e coração de galinha. mas eles não são triviais, tá? o pão sírio chega quentinho à mesa e o coração tem um molho saborosíssimo de ostra. a goyza de costela pode ser comida em porções obscenas, de tão leve.



entre os pratos principais, arroz de costela, galeto e pappardelle com ragu, (fotos abaixo), só para citar alguns. eles vêm em porções bem servidas. sabe quando a carne é tão macia que derrete na boca? e esse tomatinho que explode quando é mordido? que delícia!
tentei achar o cardápio online pra dar uma média de preços, mas não consegui e não tenho nenhum registro aqui comigo, desculpem. pelo que me lembro, o prato principal mais barato é a lasanha vegetariana e ela custa algo perto de R$ 60. o mais caro é um prato com frutos do mar que custa por volta de R$ 130. os outros pratos ficam mais pra baixo dessa média, eu acho os preços justos.



o ambiente é descontraído e barulhento. digamos que a acústica é mais propícia pra um encontro de amigos do que pra um date. mas as mesas do lado de fora, num dia de temperatura agradável, podem servir perfeitamente a essa última função.


por fim, as sobremesas, a primeira coisa que eu olho nos cardápios. não tenho foto da mousse de chocolate, que é um clássico dos restaurantes da família Troisgros. mas anotem aí que ela é maravilhosa. e é servida direto da travessa pro prato, com aquela carinha de comida de casa, sabe? abaixo, foto da torta basca com caramelo salgado, muito boa!


apesar de parecer que eu dei o relatório completo, acreditem, ainda faltam detalhes a serem descobertos, como os drinks, que nunca provei. o que me chamou a atenção foi a gin tônica de caju. o cheiro domina o ambiente quando a taça passa. e se você sentar no balcão, vai ficar com ainda mais água na boca pra provar as bebidas. quando for, me chama! 😉
por hoje é só, pessoal! (sempre quis escrever isso) volto daqui a 15 dias. até lá, me conta suas sugestões, impressões, críticas. elogios também serão bem-vindos!
em @vivi_dacosta eu compartilho mais sobre minhas inspirações e minha vida. entre uma edição e outra por aqui, dá pra gente trocar boas ideias por lá. 😎
eu sigo no time das despreparadas para a época do Oscar, afastada um pouco da mística dos cinemas em comparação com o conforto do sofá. as vezes me pergunto se a saída não recompensa, mas sigo sendo vencida pelo sofá, rs. seja como for, aproveito o ensejo para drinks no toto, que com certeza me tiram do sofá!
dos que já vi do oscar, meu preferido até agora é “anatomia de uma queda”. que roteiro primoroso!
quanto ao toto, não conheço ainda, mas aceito o convite que você vai me fazer. hahaha