na edição de hoje: um documentário, um curso de cartas de amor, um texto ficcional escrito por mim e alguns lugares incríveis pra comer no Rio de Janeiro - que agora é onde eu passo férias! ;-)
eu amo filmes sem grandes acontecimentos, filmes sobre pequenas trivialidades que provocam reflexões enormes. voar eu já não amo tanto assim. não é que eu desgoste também. aviões ficam na minha zona neutra, cada voo é um voo. e se tem uma coisa que pode transformar a experiência de voar em algo memorável é um bom filme sem grandes acontecimentos. sim, é meio estranho isso porque o combo assento desconfortável, telinha minúscula e fone de ouvido de péssima qualidade não é nada convidativo pra desfrutar da sétima arte. mas cada um com seus refúgios.
pra minha sorte, o voo mais recente que eu peguei tinha o documentário chileno A Memória Infinita (Prime) disponível no catálogo. o filme estava na minha lista de desejos desde a pré-temporada do Oscar e é exatamente do tipo que eu amo. ele concorreu na categoria Melhor Documentário, mas não levou. dirigido por Maite Alberdi, conta a história do jornalista Augusto Góngora, que tem Alzheimer, e da atriz Paulina Urrutia. são 90 minutos de sutilezas profundas sobre um casal que tenta lidar com a perda inevitável imposta por um diagnóstico, e as tantas perdas decorrentes da ausência de memória.
o documentário mistura momentos da rotina dos dois com lembranças antigas, guardadas em vídeos caseiros de banalidades que ganham novíssimos e profundos significados quando realocados no contexto principal do filme. fiquei pensando sobre como nossas memórias se transformam e como pode ser revelador revisitar registros do passado.
outro dia, meu celular avisou que estava ficando sem espaço na memória. óbvio que eu me lembrei imediatamente do filme e pensei nas nossas formas atuais de armazenar lembranças. gastei um bom tempo revendo fotos e vídeos pra esvaziar a memória do celular. foi como assistir ao que poderia ser um documentário dos meus últimos meses se construindo.
senti de novo o prazer de alguns abraços dados no que já parece outra vida. passei pelas fotos que tirei no dia em que fui convidada pra mudar de país. as de antes do convite. e as de depois também. relembrei almoços dos quais eu já não me lembrava mais, o que me assustou um pouco. amei o Rio, amei Nova York, tive vontade de fugir pra Bahia. tudo como se fosse novidade. sorri com minhas fotos afetivas da infância.
por fim, apaguei vários registros pra abrir espaço pro que virá. está tudo salvo na nuvem, é claro. eu gosto de manter esse acervo e saber que posso reencontrar versões anteriores minhas e ser surpreendida - por mudanças ou por permanências. acho que conseguir distanciamento pra rever o passado é uma oportunidade de entender melhor quem eu sou hoje.
Augusto Góngora foi repórter de televisão e cobriu a ditadura no Chile, uma das mais sangrentas da América Latina. décadas antes de ser diagnoticado com Alzheimer, escreveu um livro sobre a importância de resgatar e preservar a memória. num vídeo da época do lançamento ele afirmou:
“parece-nos muito importante reconstituir a memória, não para ficarmos ancorados no passado, mas porque pensamos que reconstituir a memória é sempre um ato com sentido de futuro.”
o documentário me fez pensar o tempo todo como um homem que valorizou tanto a memória acabou perdendo a dele. é tocante a franqueza apresentada ao espectador nos registros do casal, que se dedica diariamente a reconstituir a própria história e o amor. nós nos tornamos íntimos da tristeza profunda dela ao ser esquecida por horas e do desespero dele diante da confusão mental que o atormenta. mas o mais emocionante, sem dúvidas, é a doçura dos dois, dispostos a permanecer, e a se lembrar o tempo todo.
inspiração da edição
a Tayná Saez, voz desse vídeo, é escritora e dá cursos de escrita que vão muito além das regras e estratégias pragmáticas que fazem um bom texto. carrego até hoje as lições que aprendi nas aulas dela, no meu ofício e na vida. são provocações que estimulam a criação e nos tiram da zona de conforto.
no começo de 2021, quando a segunda onda de contaminações da pandemia tava pegando feio, eu fiz a oficina de cartas de amor. no próximo fim de semana e no seguinte, vai rolar uma nova edição dessa preciosidade. eu revisitei a coletânea de cartas produzidas pelos alunos e decidi compartilhar uma das minhas, escrita a partir da história de outra pessoa.
“Encanto, dizem as más línguas que o amor vai esfriando com o tempo. Eu tenho muita dificuldade de acreditar nisso. Como pode? Veja só o nosso caso. São 20 anos e ainda te chamo de Encanto. Sabe o que significa, aliás? Decerto, como bom escritor, tu sabes, mas fui pesquisar. Forte atração sentida por tais qualidades de alguém ou de algo.
É forte mesmo o amor que sinto por ti. Ele se apoia nas certezas que nossa relação me dá. Mas, sabe, tenho pensado sobre o futuro... Entre a segurança e a empolgação, qual você escolheria diante de uma proposta ousada? Estava imaginando nós dois tomando um café quentinho no alto de uma montanha, na Bolívia, esperando o sol nascer, enrolados num daqueles tecidos coloridos bem aconchegantes. Consegues ver? Parece uma boa?
E que tal um fim de tarde na Tailândia, nós em roupas de banho ainda úmidas e salgadas de um último mergulho, drinques docinhos e alguns rascunhos de um romance caliente? A foto ficou bonita na minha imaginação.
Viver contigo e te amar é uma aventura suave. Ser tua companheira é a garantia de um voo sem turbulências. Mas e se a gente adicionasse mais emoção a essa viagem? Sei lá... A pandemia tem me dado umas ideias inusitadas. Pensar em explorar o mundo sem limitações me dá vontade de colocar a vida de agora em espera e curtir sem obrigações. Bom, são ideias. Enquanto isso, eu quero é curtir com você a nossa parceria de sempre, que até hoje me fascina.
Aproveitar um sabático cheio de prazeres deve ser muito bom. Mas, sem dúvidas, não existe deleite maior do que tua companhia, meu alívio diante das loucuras da vida cotidiana.
Com amor, Florzinha.”
um lugar para conhecer
o tal voo mais recente que eu citei lá no começo foi o que me trouxe de volta do Rio de Janeiro a Nova York. e se teve uma coisa que eu fiz MUITO bem durante as férias foi comer. então, pra matar a saudade, os meus preferidos - cheios de novidades!



tenho que começar por Botafogo. o meu xodó máximo, a slow bakery, passou a servir brunch aos fins de semana e eu sei que você não sabia disso. o cardápio é especial. na primeira foto, o ovo beneditino que é um absurdo de gostoso. e esse new york croissant que eu tenho certeza que foi feito pra mim? ❤️ a terceira foto é do ravioli que tá no cardápio fixo do Marchezinho pra almoço e jantar. a limonada da casa é um espetáculo à parte e a soda de maracujá me conquistou.




num pulo em Ipanema, abrimos com duas fotos do Koral, que eu considero um dos melhores restaurantes do Rio hoje: cardápio criativo, com sabores incríveis. à esquerda, o vinagrete de polvo que dá vontade de comer umas três cumbucas de uma vez, e o crudo no carvão. à direita, a torta quente de goiabada com queijo e sorvete de queijo. não é barato, mas vale se planejar pra um jantar especial. no almoço, tem a opção do executivo a partir de R$ 76, com entrada, prato principal e sobremesa.
embaixo, opções perfeitas pra um pós-praia preguiçoso e faminto. à esquerda, o peixei tropical do Le Pulê, com molho de moqueca, banana assada, farofa de dendê e arroz thai. à direita, o sanduíche de rosbife do Solo. vale conhecer a unidade nova do Leblon, que é mais espaçosa e bem aconchegante.





no Centro, a joia que é o Lilia. faça reserva e chegue com calma à unidade da Rua do Senado, num casarão lindo, bem iluminado e arejado, com decoração industrial minimalista - quem brilha e chama a atenção é a comida, basta olhar as fotos. o menu do almoço, com couvert da casa, entrada, prato principal e sobremesa custa a partir de R$ 118. o valor pode variar pra mais de acordo com suas escolhas. é caro, mas é incomparável. vale a pena se deixar ser surpreendido.


pra fechar, meus docinhos, em novos endereços. a Bel Trufas, original do Leblon, abriu uma janelinha no Jardim Botânico, com os clássicos e o charme de sempre. boa pedida pra uma pausa rápida no meio da tarde ou um café antes do trabalho. na direção contrária, a Absurda, que nasceu com atendimento presencial no Jardim Botânico, agora está também no Leblon, num espaço moderno e convidativo. na foto, a tortinha de morango e a éclair de café, duas perfeições visuais da confeitaria. é de comer com os olhos e de se apaixonar de vez quando saboreia.
pra terminar, divido com vocês o mar do Rio. na próxima edição, Nova York volta com tudo.
obrigada pela companhia. nós também podemos conversar lá em @vivi_dacosta. é onde eu compartilho mais sobre as minhas inspirações, a vida e as oportunidades que eu observo por aí. aguardo suas opiniões e sugestões.
oba! dicas que eu consigo aproveitar sem ter que tirar férias... hahaha