na edição de hoje: um livro, um disco, um evento pra participar em novembro e um texto da newsletter
pra ler já.palavra, pra mim, é o sagrado, embora também seja intrinsecamente o profano. eu trato muito bem cada uma que encontro. escrevo pra contar de que matéria sou feita. cultivo minha escrita, coloco adubo, podo as sobras que já não têm mais vida, troco de vaso. meu texto é minha planta. e eu gosto que ele dê frutos daqueles que quem lê conclui: não caiu longe do pé.
minha escrita é um lugar íntimo. prefiro as letras minúsculas. quanto menos hierarquia, melhor. as regras são só um detalhe. vivo pensando em contar. tudo é motivo.
foi por isso que eu, sem tempo mesmo, me inscrevi na oficina de escrita da Jeovanna Vieira. tem coisas que a gente não precisa nem pensar pra ter certeza que tem que fazer. quando chegou o convite dela pra participar desse percurso, eu tinha mil e um motivos pra não me comprometer, dos mais tolos aos mais coerentes. mas a força criativa chamou e o jeito, meu bem, foi ir.
vivendo um encontro que só pode ter sido forjado por outras instâncias, me vi emocionada, escrevendo e olhando minhas palavras por um viés totalmente novo. Jeovanna disse que não tinha truques (editoriais) pra ensinar, mas tinha, sim. ela é truqueira de vida, e sabe como provocar e abrir espaço pro magnífico inesperado.
nesse percurso, todos nós do grupo trocamos muitas dicas e agora eu tenho uma lista de coisas pra ler, ver e ouvir digna de 30 dias de férias na Bahia (universo, captou?). comecei a desbravar as novas referências com calma e levei Ninguém quis ver, da Bruna Mitrano pra curtir uma tarde ensolarada no parque.
fui distraída.
foi uma das minhas melhores leituras do ano. mas esse livro não é pra curtir numa tarde ensolarada no parque. ele é denso. eu precisei de uma semana pra assimilar a violência e a beleza da poesia dessa autora da periferia do Rio de Janeiro. o vídeo acima é um aperitivo da entrevista da Bruna Mitrano no Trilha de Letras, da TV Brasil, conduzida pela Eliana Alves Cruz. ela fala sobre a experiência dela com a literatura, como leitora e escritora, e sobre as expectativas e consequências relacionadas ao lançamento de Ninguém quis ver.
a escrita da Bruna é como um terremoto: chega sem avisar e sacode tudo. ela escreve sobre abusos, injustiças, desigualdades, dores profundas com um lirismo quase constrangedor.
eu li e reli aquelas palavras e senti cada golpe. como uma menina viveu isso tudo? por quê? quantas mais vivem o mesmo, agora? qual o papel da arte em realidades cruéis? como ela reconta histórias que não são só bonitas? por que escrever, afinal? tem como não se apaixonar por um livro que planta essas dúvidas todas na cabeça do leitor? leiam e me contem, por favor.
inspiração da edição
agendas com 2025 estampado na capa já estão à venda. ouço falar em retrospectivas. vejo decoração de Natal nas lojas. eu poderia falar sobre como faltam pouco mais de dois meses pra terminar 2024, mas, calma. ainda dá tempo de colocar Caju pra tocar. e relaxar.
se eu estou uma emocionada nesse ano, a Liniker tem muita responsabilidade nisso. já sorri, chorei, dancei e admirei o céu deitada na grama, muitas vezes, acompanhada dela. a crítica musical não é meu forte, mas, num ano em que as canções têm participado mais dos meus dias, não posso ignorar o poder de Caju. estou apaixonada pelas experimentações, pelos ritmos, pelos arranjos. sempre que eu coloco pra tocar, sou fisgada, música após música, e só termino quando acaba.
esse é um álbum que vale a escuta - quem diz é a crítica especializada - e que merece ser degustado com sua bebida favorita, num dia daqueles em que a gente precisa se agradar.
um evento para participar… no Rio de Janeiro
minhas queridas da vão fazer uma edição especial ao vivo do salvei, o podcast de cultura com dicas de séries, livros, filmes, músicas, revistas, tudo o que você que frequenta esse espaço aqui deve amar. porque eu também amo.
o encontro será no dia 5 de novembro, às 19h30, no Estação Net Gávea. tem mais detalhes aqui. os ingressos já estão à venda e eu com certeza estaria lá se não tivesse uma eleição americana pra cobrir no mesmo dia. e eu digo isso não porque admiro pessoalmente muitas das pessoas envolvidas na criação e na manutenção desse projeto, mas porque o encontro presencial do ano passado foi um dos eventos de cultura mais legais dos quais eu já participei.
sejamos honestos - e um pouco pessimistas, talvez -, a gente tá diante de uma crise de socialização planetária. o individualismo geracional - não falo de uma geração específica, mas de cada um de nós que vivemos esse período - tem impactado as relações em vários níveis e campos, e transformado a socidade. estamos hiperconectados e isolados.
aí, mesmo diante desse cenário - ou por causa dele? -, existem mulheres que acreditam tanto na força dos encontros que colocam de pé um evento só pra falar de cultura. “só”. é uma noite de celebração, pra falar, ouvir, debater, compartilhar, se sentir enriquecida. é desse tipo de potência se trata esse encontro da salvo. fica o convite.
antes de ir, alopre
a Élide é minha web amiga (e também faz parte da salvo). e nessa altura da nossa relação, eu já acho que talvez a gente deva manter as coisas assim pra não desfazer a mística que eu criei na minha cabeça sobre a forma como a escrita dela se conecta comigo de um jeito certeiro e profundo.
na sexta-feira passada, eu tava de bobeira no Instagram quando, passando pelos stories dela, vi que tinha texto novo. cliquei na hora pra abrir e li tudo numa tacada só. terminei e fiquei olhando pro nada por uns minutos, pensando: “que bruxaria é essa? parece que ela entrou na minha cabeça”. mas, ao mesmo tempo, eu sabia que nada do que tava escrito ali tinha a ver comigo. Élide tem a vida dela, as questões dela, e eu, as minhas. mas, de alguma forma aquele texto me tocou e me fez pensar em muitas coisas mas, principalmente, no quanto colocar a palavra no mundo é poderoso. valeu, web amiga!
não vou dar spoiler porque a verdade é que não consigo escolher um trecho pra destacar. recomendo ter um copo d’água ao lado pra quando terminar.
obrigada pela companhia. enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta. é onde eu compartilho mais sobre as minhas inspirações, a vida e as oportunidades que eu observo por aí. aguardo suas opiniões e sugestões.
sua escrita me deixa no brilho... saudade de me embebedar da sua presença!!!
Cara que texto legal, fluido! Adorei a parte da Liniker, esses dias fiz um post observando cada trechinho das músicas, tamanha a obsessão por Caju! Um beijo!!