na edição de hoje: uma entrevista, alguns conselhos, um disco e um filme.
de repente, eu me vi com duas mãos cheias de séries que estão em andamento e eu - capturada - sem saber exatamente o que será delas. Fortuna, Shrinking, The Bear, Severance, Ted Lasso, Cem anos de solidão, várias com temática adolescente que eu vejo pra desopilar, Invejosa, Black Cake, Kaos.
algumas têm novas temporadas confirmadas, mas não se sabe quantas. outras, juram os criadores, vão ter mais uma temporada e terminar dignamente. tem umas duas que podem ou não ter mais coisa pela frente. duas subiram no telhado com a história sem desfecho mesmo e eu me lasquei com a expectativa ao relento.
daí, um dia, eu tava pensando nessas minhas companheiras - e no tempo que eu vou perder com elas em 2025 - quando acabei chegando à pergunta do subtítulo. refletindo sobre se vale mais uma temporada de Disclaimer na mão do que mais de 20 de Grey’s Anatomy voando, conclui: vamos todos morrer mesmo.
é, o fim é certo, né? com frequência, parece que a gente se esquece disso. eu sei que não dá pra pensar na morte o tempo todo, mas também não dá pra ignorar a única certeza da vida. eu acho que quando a gente perde isso de vista, e fica olhando muito pro que fez de errado ou pro que não deu certo ou pro poderia ter sido melhor, a gente deixa de focar no que dá pra fazer diferente, nas possibilidades que ainda tem.
tudo isso pra dizer que: eu só quero que minhas séries tenham um fim bacana, bem maneiro, um desfecho que me faça pensar que valeu a pena investir meu tempo ali. é o que eu quero da vida também.
eu quero ir a praia em vez de ficar rolando o feed, quero acordar cedo pra correr com meus colegas malucos, quero provar docinhos, quero fotografar muito, quero andar, quero desbravar, quero conhecer as novidades, quero ter medo, quero ser corajosa, quero estar por dentro da última sensação, quero me alienar, quero beijar meu amor, quero mandar mensagens de amor, quero chorar de soluçar, quero ficar triste na minha, quero apostar nas minhas vontades, quero contrariar minhas verdades, quero desvendar o enigma, quero criar outro, quero.
eu quero nunca perder de vista o horizonte e o desejo de terminar bem. porque o começo passa e se renova, é substituído a cada segundo.
a única certeza é que termina. então, que a gente faça valer a pena.
o que eu tenho pra oferecer a vocês nesse começo de ano é isso: provocação. uma tentativa de mudança de perspectiva, de um novo olhar diante de um novo ciclo.
as experiências não nos dão superpoderes. mas tiram o poder dos medos dos outros sobre nós, e aumentam o valor das amizades.”
há mais de um ano, em novembro de 2023, eu falei sobre a Tamara Klink aqui, e contei sobre a experiência dela de 200 dias no mar congelado. a Tamara foi, voltou, e foi sabatinada no Roda Viva. a entrevista é simples, e essa é a maior grandeza dela, pode acreditar. os entrevistadores estavam extremamente preparados e souberam conduzir o papo por um caminho de curiosidade e desconforto.
e a entrevistada foi natural. não apresentou aqueles discursos cheios de aforismos e suposto brilhantismo forçado. é um discurso espotâneo, honesto. a Tamara foi só uma pessoa contando ali o que viveu, o que aprendeu, no que acertou, no que errou. pra mim, o interessante foi observar como a vida “numa situação extrema” se parece com “a vida normal” que a gente vive. estaríamos nós todos em situação extrema, na verdade?
inspiração da edição
aqui nos Estados Unidos, eu tenho acesso a muitas revistas, de todo tipo, do mundo todo. é quase como um sonho adolescente se tornando realidade. eu sempre gostei de ir a bancas de jornais escolher uma nova aquisição. Recreio e Capricho foram os títulos que eu mais colecionei e li. adorava.
quando comecei a fazer Jornalismo - grande história, a desse começo -, me apaixonei ainda mais pelo veículo que estava já respirando por aparelhos. com a mudança, eu redescobri esse encantamento diante das tantas possibilidades. agora, tenho uma loja de revistas que é meu xodó, a Casa Magazines (um clássico de NY), e até uma assinatura impressa de revista, que chega direitinho aqui em casa.

também sigo perfis de revistas nas redes sociais. gosto do ritmo que dita a produção dos conteúdos, de como os assuntos ganham camadas mais profundas, diferentes, e, muitas vezes, instigantes. essa imagem aqui de cima saiu de um post da The Atlantic com conselhos que passaram pelas páginas da revista ao longo do ano. achei esse em destaque especial e com a cara de ano novo. para ver outros, é só tocar na imagem.
um disco pra conhecer
sabe uma vibe boa de Rio raiz, uma coisa meio Tim Maia, swingada e estilosa, mas também com uma pegada refrescante, descompromissada? é assim que eu sei definir “Os Garotin de São Gonçalo”, álbum que eu demorei muito pra conhecer e que é muito gostoso de curtir. Anchietx, Cupertino e Leo Guima, de um ano pro outro, foram de São Gonçalo, munícipio do estado do Rio de Janeiro, pro Grammy Latino. eles se juntaram em 2023 e, em 2024, ganharam o prêmio de melhor álbum de pop contemporâneo em língua portuguesa.
os três têm carreiras paralelas, mas é em grupo que lotam casas de shows pelo Brasil. se você, como eu, ainda não conhecia, vale muito ouvir naquele dia que você só quer ser feliz com música boa. e, claro, vamos ficar de olho no que esses artistas vão produzir em 2025.
antes de agradecer pela companhia por aqui, como sempre faço, gostaria de deixar um afago pra começar o ano, porque “temos que endurecer sem perder a ternura”, né. jamais.
Dias perfeitos, de Wim Wenders, é perfeito. eu assisti ao filme no começo de 2024, me apaixonei, e ele voltou pra minha vida na reta final do ano. em tempo, sempre!
o roteiro é singelo, narra a história de um homem que todo dia faz tudo sempre igual. até que uma sobrinha dele chega pra movimentar os dias. não é que a vida do nosso cativante personagem principal fosse exatamente parada, mas aquela nova presença estica os limites do cotidiano.
o filme se passa em Tóquio e tem uma fotografia contemplativa e delicada que também é personagem, assim como a trilha sonora. o filme inspira uma sensação de contentamento com o viver, é realmente de uma sensibilidade ímpar. desafio você a não se encantar pelo Hirayama e o jeito dele de cuidar e de viver.
agora, sim, obrigada! faça pausas e olhe pra cima. e, enquanto a próxima edição não chega, nós podemos conversar lá em @vivi_dacosta.
Vivi, como sempre estou atrasada nas minhas leituras da VSTM...porém, se considerarmos, o que nos diz J. J. Benítez em "Operação Cavalo de Tróia" estou no compasso... A vida tá fluindo como deveria... Tá seguindo o script... Sobre as suas elucubrações (que palavrinha antiga!), a respeito das (in)certezas da vida, o Jesus (sim, aquele que conhecemos como filho de Maria e Salvador do Mundo) apresentado pelo escritor desse(s) livro(s) que mencionei acima (são nove volumes! Não satisfeito, ele escreveu mais dois...para o regozijo de alguns) diz que "DE FATO, NÓS SÓ TEMOS O AGORA"... Então penso que não há problema nenhum em deixar de acompanhar uma série que descambou, ou deixar a leitura de um livro que não tá entregando o esperado ou de deixar de frequentar o restaurante preferido, porque o serviço ficou ruim... Como só temos "o agora", não dá pra perder tempo com o que não nos acrescenta, "na esperança de que aquilo mude e fique bom..." (Conselho de Natália Sousa - Ep.242 do Para Dar Nome Às Coisas - Por que é tão difícil desistir?)
Edição que convida a reflexões... Eu sigo o Jesus de Benítez... É mais importante começar ou terminar bem? Para mim, o agora é o que realmente importa... é se está bom enquanto tá acontecendo... o depois? não sei se ele vai chegar ou como vai chegar... Uma coisa é quase certa: se descambou pra pior, dificilmente volta pros eixos...
Um beijo!
um bom começo é bacana, mas terminar bem me parece mais importante, porque - no fundo - é a última impressão que acaba se impondo. quando as obras começam maravilhosamente bem e depois descambam, fica a sensação amarga de que poderia ter sido melhor. já quando o começo é qualquer nota e o final é bom, fica a sensação de que valeu a pena ter insistido.